Todavia, a UDN não encontrou, em 1955, uma candidatura viável à presidência. Após idas e vindas, assumiu a candidatura o general Juarez Távora. O ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros concorreu à presidência pelo PSP. Inscreveu-se, também, Plínio Salgado, o antigo líder do Integralismo, candidato pelo PRP. O quadro foi completado pela chapa que seria vitoriosa, composta por Juscelino Kubistchek, candidato a presidente, que tinha João Goulart como vice. Era a união formal do PSD com o PTB, as forças partidárias organizadas, em 1945, sob a liderança de Getúlio Vargas.
O programa de governo de Juscelino Kubistchek, batizado de plano de metas, planejava a modernização da economia brasileira pela intensificação da industrialização e a integração nacional por meio de rodovias e infraestrutura. A meta síntese veio a ser a construção da nova capital, Brasília, símbolo da integração nacional. A propaganda dizia que o Brasil cresceria 50 anos em cinco. A tudo isso somava-se a força organizada do trabalhismo, visto que João Goulart era herdeiro político de Getúlio Vargas.
As urnas registraram os seguintes números: Juscelino Kubistchek - 3.077.411 (35,68%); Juarez Távora – 2.610.462 (30,27%); Adhemar de Barros - 2.222.725 (25,77%); Plínio Salgado - 714.379 (8,28%); Brancos - 161.852 (1,77%); Nulos - 310.185 (3,40%).
Desde o início, prevendo nova derrota, a UDN pregava a suspensão do calendário eleitoral. Carlos Lacerda dizia que o eleito seria “produto da fraude, da demagogia, de práticas sujas”. Era preciso, exortava Lacerda, “um regime de emergência”, um “contragolpe para criar as condições de estabelecimento da democracia no Brasil’. Para a UDN, se os aliados ou herdeiros de Getúlio ganhassem a eleição, era sinal de que a democracia não funcionava no Brasil.
Depois das eleições, a UDN retomou a tese de que os eleitos não tiveram a maioria absoluta dos votos, uma exigência que não constava da legislação, e questionou o apoio informal do PCB a Juscelino Kubistchek.
Pairava no ar o clima de uma conspiração para impedir a posse de Juscelino Kubistchek e João Goulart. Nesse contexto de alta voltagem, o presidente Café Filho pediu licença alegando cardiopatia. Sob a presidência interina do deputado Carlos Luz, o clima de conspiração se acentuou. Quando um militar subalterno ecoou, publicamente, que a democracia brasileira era uma “pseudolegalidade imoral e corrompida”, o ministro da Guerra, general Henrique Lott, interveio para puni-lo, mas foi desautorizado pelo presidente Carlos Luz, gerando crise militar.
Mesmo demissionário, Lott desencadeou um movimento em defesa da legalidade das urnas e, com apoio de outros influentes oficiais, promoveu ações militares. O país entrou em clima de guerra civil iminente. Isolando e derrotando Carlos Luz e seus aliados da UDN, Lott articulou o impedimento do presidente interino com o Congresso Nacional. Na sequência, o presidente Café Filho quis reassumir o cargo, mas também foi impedido pela articulação de Lott e seus aliados militares com o Congresso Nacional. De modo que a presidência da República foi exercida pelo senador Saulo Ramos, que transmitiu o cargo a Juscelino Kubistchek.
O movimento liderado pelo general Lott ficou conhecido como “novembrada”. Dois presidentes foram interditados pela “novembrada” para garantir a vontade democrática e soberana das urnas. O Brasil, disse alguém, não é para principiantes.