A disputa ideológica principal era com a UDN, o partido cuja razão de ser era combater o trabalhismo e o getulismo. Diante da anunciada candidatura de Vargas, o jornalista Carlos Lacerda, um dos líderes da UDN, ameaçou: “O Senhor Getúlio não deve ser candidato; se for candidato, não deve ser eleito; se for eleito, não deve tomar posse; se tomar posse, não pode governar”.
Como a UDN era um partido bem assentado no grande empresariado, na grande imprensa e nos meios militares, Vargas elaborou uma minuciosa estratégia eleitoral, embasada em um programa de aprofundamento do processo de industrialização e ampliação da legislação social. Um primeiro movimento foi fazer aliança com o Partido Social Progressista (PSP) de Ademar de Barros, governador de São Paulo, um estado decisivo no mapa eleitoral brasileiro. Ademar de Barros indicou o candidato a vice, Café Filho. Além disso, Vargas procurou apoio de antigos aliados que se encontravam no PSD. Embora essa legenda tivesse candidato próprio, o movimento de Vargas produziu efeito, provocando esvaziamento da candidatura de Cristiano Machado. Vargas também procurou neutralizar eventuais resistências da liderança militar. Antes de selar acordo com Ademar de Barros, Vargas oferecera a candidatura a vice ao general Goes Monteiro, que se projetara na liderança militar durante o longo período de Vargas no comando do país.
Em outubro de 1950, Vargas colheu os frutos. As urnas registraram os seguintes números:
Getúlio Vargas - PTB/PSP - 3.849.040 - 48,73
Eduardo Gomes - UDN/PRP/PDC/PL - 2.342.384 - 29,66
Cristiano Machado - PSD/PR/POT/PST - 1.697.173 - 21,49
João Mangabeira - PSB 9.466 - 0,12
Com dificuldade de dialogar com o eleitorado de baixa renda, a UDN, mais uma vez, chegou em segundo lugar. Na sintonia da ameaça vocalizada por Carlos Lacerda, o passo seguinte da UDN foi tentar impedir que Vargas tomasse posse, alegando que ele não obtivera maioria absoluta dos votos, ou seja, 50% + 1 dos votos. Era um casuísmo, visto que a legislação não fazia essa exigência.
O clima de golpe de Estado pairava no ar, mas não deu certo, pois Vargas conseguiu tomar posse. Seu mandato, porém, foi caracterizado pela forte oposição da UDN e de seus aliados civis e militares. Em 1954, após contornar uma crise militar e um pedido de impeachment, Vargas foi engolfado em uma crise de alta intensidade, quando ocorreu um atentado contra a vida de Carlos Lacerda. Investigações apontaram o envolvimento de assessores do presidente, embora Vargas não tivesse responsabilidade. Emparedado por um ultimato da liderança militar, segundo o qual ele deveria renunciar ou seria deposto, sem direito a defesa e a um julgamento, Vargas suicidou-se na manhã de 24 de agosto de 1954. O suicídio de Vargas causou profunda comoção nacional, principalmente nas classes populares. No dizer de sua carta testamento, Vargas deixava a vida para entrar na história.
JINGLE DA CAMPANHA DE VARGAS - Ouça
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