Com o fim iminente da Segunda Guerra Mundial e a anunciada vitória dos aliados, o regime do Estado Novo se tornava insustentável. Participando da guerra ao lado dos Estados Unidos e da Inglaterra contra o fascismo, o Brasil não poderia manter aquela ditadura. Desde o início daquele ano, a oposição mostrava seu rosto e os mecanismos de censura foram afrouxados. Pragmático, o presidente Getúlio Vargas decretou anistia e editou regras para a formação de partidos políticos, cadastramento de eleitores e realização dos certames eleitorais.
Naquele ano, foram criados os três principais partidos que comandariam a política nacional no novo período: o Partido Social Democrático (PSD); o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e a União Democrática Nacional (UDN). A liderança do PSD era constituída pelos interventores que Vargas nomeara para governar os estados. O PTB procurava canalizar a popularidade do presidente junto aos operários, em razão da implementação da legislação trabalhista. A UDN era o partido liberal do período, visceralmente antitrabalhista e antivarguista. Outra força que emergia era do Partido Comunista do Brasil (PCB), legalizado na metade do ano.
Para espanto da oposição varguista, surgiu um movimento político, com forte apelo popular, que reivindicava que o presidente Vargas pudesse ser candidato ou que fosse o fiador da nova constituição, mediante adiamento da eleição presidencial. Com o lema “queremos Getúlio”, era chamado de “queremismo”. Temendo que Vargas impusesse uma solução continuísta, a liderança militar depôs o presidente, mas seus direitos políticos não foram cassados, o que permitiu que ele fosse candidato a uma cadeira na Constituinte e fosse eleito como senador. Para a oposição, o queremismo encerrava uma contradição: pedir a sobrevivência política do ditador quando a ditadura acabava. Havia, contudo, uma lógica: temia-se que, com a ascensão da oposição liberal ao poder, a legislação trabalhista fosse revogada.
O quadro de candidatos foi assim constituído. Pela UDN, candidatou-se o brigadeiro Eduardo Gomes, militar de grande prestígio. Pelo PSD, o candidato foi o marechal Eurico Gaspar Dutra, ex-ministro de Vargas. O Partido Comunista lançou o engenheiro Yedo Fiuza. O PTB, embora dividido, apoiou Gaspar Dutra.
Até a reta final, o brigadeiro Eduardo Gomes era visto como franco favorito, mas houve uma reviravolta. Fora da disputa principal, mediante negociação em favor da preservação da legislação trabalhista, Vargas declarou apoio a Dutra na reta final, invertendo a tendência.
O candidato da UDN desdenhou da força do eleitorado de Vargas, dizendo que não precisava “dos votos daquela malta de desocupados que apoia o ditador”. Os aliados de Vargas traduziram “malta” por “marmiteiro”, um dos sentidos possíveis, e a campanha ganhou um sabor mais popular. Para esses propagandistas, tratava-se do voto do povo humilde, os marmiteiros, contra o candidato das elites. Confirmando a virada, as urnas registraram os seguintes números:
Eurico Gaspar Dutra - PSD - 3.251.507 - 55,39%
Eduardo Gomes - UDN - 2.039.341 - 34,74%
Yedo Fiuza - PCB - 569.818 - 9,71%
No Paraná, Dutra obteve 70% dos votos.
Assim, Dutra se tornou presidente da República, mas salienta-se que Vargas sobreviveu politicamente e teve protagonismo na definição dos resultados. O fato mais importante, porém, é que essa foi a primeira vez, em nossa história, que o povão participou de uma eleição presidencial com poder de decisão.
JINGLE DA CAMPANHA DA VITORIOSA: Disponível no link