Opinião
Opinião
Assédio não aumenta, mas denúncias sim
O comentário de Gilson Aguiar por Gilson Aguiar em 27/10/2023 - 08:27
De gente denunciando mais.
O assédio sexual e moral teve um aumento no número de denúncias no país. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TST), este ano o número de denúncias cresce e já é maior do que do ano passado no mesmo período.
Em 2022 foram 7.800 denúncias de assédio moral. Este ano, até este mês, já são 7.627. Com o assédio sexual ocorre a mesma tendência. Logo, o combate a estas práticas estão sendo eficazes.
A prática de violência moral.
Vale lembrar que a violência tem um papel histórico na vida dos brasileiros. A formação social do país e as relações de trabalho e da vida pessoal são marcadas em sua construção histórica pela agressão, o abuso da autoridade, e a humilhação como prática cotidiana.
Os relatos das relações de violência na vida do trabalho vão além da escravidão. O fim das relações escravistas não representou o fim da violência no trabalho. Ela se manteve como prática costumeira. Esteve e está presente em muitas relações profissionais que se encontram diante de olhares mais atentos e pessoas com possibilidades de denúncia.
Nas relações agrárias e urbanas onde há trabalhadores de baixa renda subordinados a ambientes e convívio com gestores que naturalizam a prática de agressão física, moral e sexual é comum e constante, a violência pode ser extrema. Estes fatos raramente chegam a serem denunciados. Quando chegam fazem emergir situações de agressão que causam indignação.
Não é nada surpreendente que um número significativo de pessoas já tenha presenciado atos de violência no ambiente profissional e pessoal. Pelo menos 70% das pessoas já passaram por esta situação, a maioria como vítimas da agressão e alguns como agressores.
As denúncias estão aumentando.
Combater a violência é denunciar, apostar na Justiça e acreditar que seus mecanismos podem ser a melhor arma para conter a agressão e acabar com sua naturalização. Não adianta tentarmos resolver estas questões na particularidade de nossos atos ou omissão. Na tentativa de fazer “justiça pelas próprias mãos” ou ficarmos calados e deixarmos o agressor ou agressores passarem ilesos pelo ato que cometeram.
A lógica do abuso é simples e o excesso dos abusados é estimulado, também, pela impunidade. O agressor sabe que vai passar ileso, por isso agride. Na agressão cotidiana a regra é buscar agredir quem você sabe que não pode ou não tem a tendência de reagir. O agressor é quase sempre um covarde.
O que nos traz uma luz no fim do túnel é que as pessoas estão perdendo medo de denunciar. O aumento do número de denúncias não é que temos mais casos e sim mais pessoas dispostas a trazer à tona e exigir punição de maneira legal a quem agrediu.
Menos tolerância a violência, isso é bom.
Outro fator, ligado ao anterior, é que as pessoas não temem mais as consequências no ambiente de trabalho. Não se teme perder o emprego. Denunciar é mais importante do que colocar em risco a permanência em uma determinada empresa.
Aqui vale lembrar o que já falamos anteriormente, denunciar é sempre mais difícil para as pessoas de menor renda. Elas sofrem mais. Elas têm “a vida por um fio”. Acabam aceitando as condições agressivas do trabalho pela sobrevivência.
Caímos desta forma na mesma questão. A lei é mais fácil de ser cumprida para quem tem uma qualificação e renda melhor. O respeito a integridade física, moral e sexual é sempre mais fácil para aquele que pode garantir a sobrevivência independente dos embates que trava. A “Justiça” parece estar cada vez mais longe do maior injustiçado. Isto tem que mudar.
Notícias da mesma editoria
Opinião
Opinião
Opinião
Respeitamos sua privacidade
Ao navegar neste site, você aceita os cookies que usamos para melhorar sua experiência. Conheça nossa Política de Privacidade