1º de outubro de 1968, o ensaio de greve geral em Maringá
A semana na História

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1º de outubro de 1968, o ensaio de greve geral em Maringá

A semana na História por Reginaldo Dias em 29/09/2025 - 11:50

1968 foi considerado um ano de contestação e rebeldia política em todo o mundo. A banda musical The Rolling Stones cantava que ouvia, vindo de todos os lugares, o som de pés em marcha, pois era tempo de lutar. Por seu turno, os Beatles cantavam: “você me diz que quer uma revolução? Bem, você sabe, todos nós queremos mudar o mundo”. No Brasil, Geraldo Vandré exortava a ação política: “vem, vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

Na escala internacional, o mais famoso movimento daquele ano localizou-se na França, de onde vem o mito de “maio de 1968”. O movimento francês, protagonizado pelos estudantes, atingiu os sindicatos de trabalhadores e provocou uma greve geral de grande impacto. A dimensão mais emblemática do movimento era a recusa da alienação promovida pela sociedade de consumo. Segundo uma pesquisadora, esse movimento “criticou a sociedade do espetáculo, a ética do consumo, o urbanismo da alienação em nome da lógica do mercado, da indústria, da ciência e da técnica despoetizadoras”. 

No Brasil, os movimentos de 1968 lutaram contra a ditadura militar instituída em abril de 1964, que havia instalado um regime de exceção que foi regra por cerca de vinte anos. De certa forma, o ano de 1968 começou com o assassinato do estudante Edson Luís, promovido pelas forças repressivas, e terminou com a edição do Ato Institucional n. 5. Nesse intervalo, houve ascensão de lutas de massas, como as passeatas estudantis e as greves operárias de Osasco e Contagem. Foi um ano de grande inventividade, com expressões culturais densas, como o movimento Tropicália.

Em Maringá, tivemos esses processos em miniatura. Em 5 de outubro de 1968, uma edição especial do periódico O Jornal de Maringá estampava as seguintes manchetes: “Maringá pode parar”; “Greves imobilizam Maringá”. As reportagens informavam que, desde o primeiro dia de outubro, havia uma potente greve nas indústrias alimentícias, que atingira duas grandes empresas. No dia 4, a paralisação havia atingido o setor bancário. Além dessas categorias, havia mobilização das empresas do setor metalúrgico, da construção civil, com potencial de atingir os transportes públicos urbanos.

A pauta de cada mobilização específica era a reivindicação de reajustes salariais. Desde 1964, os salários haviam sofrido um achatamento de cerca de 40%, provocado pela política econômica do governo federal. Naquele contexto discricionário, paralisações do mundo do trabalho eram proibidas e punidas pelo novo regime. De modo que a mobilização em Maringá, mais do que um protesto contra o achatamento salarial de cada categoria, era um enfrentamento à política do governo federal.

Interagindo com os movimentos dos trabalhadores, houve, ainda, uma grande manifestação estudantil na primeira semana de outubro, mobilizando, sobretudo, os jovens do ensino secundarista. Houve, portanto, um ensaio de greve geral, na primeira semana de outubro de 1968, em Maringá.

Passado o auge da mobilização geral, os operários que efetivamente haviam paralisado as atividades com reivindicação de reajuste salarial solicitaram a mediação do bispo de Maringá, D. Jaime Luiz Coelho, para negociar uma solução ao conflito. Sensibilizado pelas condições de vida e de salário dos operários, o bispo intercedeu e contribuiu para a pacificação.

Ouça "A Semana na História" toda segunda-feira, com o professor e historiador Reginaldo Dias, às 11h50, com reprises às 14h50


 

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