Opinião
Todo o controle é sinal de insegurança
O comentário de Gilson Aguiar por Gilson Aguiar em 04/11/2024 - 08:00
Excesso de controle é denúncia de má-intenção.
Onde há exagero de normas e vigilância está sendo denunciado a desconfiança dos envolvidos. Desta forma, a leitura do ambiente e de seus rituais é de que cada um deve ser vigilante e vigiar os próprios atos.
Práticas de controle excessivo demonstram a perda da originalidade. Por consequência, o estímulo à mentira, a enganação, a aparência que não representa a essência. Um local onde não se pode cobrar a sinceridade, visto que a vigilância demonstra preocupação com o que se vê e não com o que se sente.
Hoje, vivemos sob os olhares alheios, o julgamento e sentenças se multiplicam diante das câmeras de vigilância nos mais diferentes lugares. Atrás do “sorria, você está sendo filmado”, as pessoas estão em constante cobrança de serem o que não são, de esconderem e aprenderem a viver em um mundo de suspensão.
Não se tem ética onde há desconfiança.
Em tempos em que se fala de ética, do compromisso de ser para além de si e de seus próprios interesses, os seres humanos temem que os demais possam agir em busca de seu benefício e fazer dos outros meros instrumentos de alcançarem seus desejos. O egoísta temem que o egoísmo seja a intenção daquele que busca tirar vantagens. Tem medo de serem vítimas do próprio veneno.
Em um texto de Jurandir Freire Costa, nos 25 anos da Revista Veja, ele fala do “medo social”. O quanto estamos prontos a praticar a agressão por temermos sermos agredidos. Passamos a cultuar a desconfiança e alimentamos na vigilância uma solução para fugirmos do que tememos, o que não controlamos, os outros.
Diante disso, a desconfiança vira uma cultura, aquilo que não precisa estar escrito e que está disposto nos sentidos das relações e naquilo que se espera que ela nos dê. Nos relacionamos na expectativa de que possamos sofrer uma agressão, de que o outro venha a nos trazer problemas. O império da desconfiança.
Sem confiança não há esperança.
Não se constrói nada onde a desconfiança impera, a não ser destruição, mentira, traição e violência. Se considerarmos que vigiar, controlar, invadir a privacidade dos suspeitos nos trará alívio, esta é uma expectativa tola, só aumentará nossa angústia.
A lógica é simples, se não podemos confiar, não podemos nos relacionar. Se não confiamos, não teremos paz e não poderemos construir nada de duradouro. Quanto mais buscamos o controle, estamos denunciando o nosso caráter. Se tememos a agressão é porque agredir passa pela nossa “cabeça” é a nossa intenção. Ninguém estende a mão se não quer cumprimentar.
Por isso, cuidado. Se você é um controlador, tem grande chance de estar cultivando um terreno fértil para um golpe onde menos espera e, possivelmente, demonstra quem você é e o que merece na prática do controle.
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