Num dos momentos mais tensos do julgamento envolvendo três acusados de participação no homicídio do auditor fiscal José Antônio Sevilha, o juiz presidente do júri determinou a prisão de um advogado. Em seguida, voltou atrás. Foi no sábado (24), quinto dia de julgamento.
Durante o interrogatório de um dos réus, o juiz Cristiano Manfrim, da 3ª Vara Criminal da Justiça Federal de Maringá, se incomodou com o uso do celular feito pelo advogado Emerson Freitas, da banca de defesa do réu Marcos Gottilieb. Segundo a apuração da CBN, o juiz, citando uma foto que tinha sido publicada nas redes sociais, disse que Freitas havia descumprido uma norma: a de que fotos e vídeos estavam proibidos no local; e aí, determinou a prisão do advogado.
Foi quando o clima ficou tenso. O advogado Ércio Quaresma, da banca de Freitas, falou que quem deveria ser preso era ele. O advogado justificou a afirmação dizendo que a responsabilidade da publicação da foto era dele, e que ele iria publicar imagens se quisesse porque estava no direito dele.
A imagem, ainda nas redes sociais, mostra o delegado de Polícia Federal Ronaldo Carrer em depoimento. Ao fundo, aparecem alguns dos advogados de defesa do réu Marcos Gottilieb.
Após o embate, houve uma pequena reunião de portas fechadas entre o juiz e os advogados. Segundo apurou a CBN, o juiz pediu desculpas e se colocou à disposição inclusive financeiramente caso tenha havido algum tipo de dano moral. Os advogados disseram que não era necessário, que só queriam um pedido de desculpas publicamente.
Manfrim voltou ao plenário e disse ter errado, pedindo desculpas aos advogados e aos presentes. Ele foi aplaudido por quem estava no Tribunal.
No domingo (25), o advogado Ércio Quaresma, defensor de Gottilieb, antes de abandonar o julgamento, falou sobre o ocorrido enquanto dizia os motivos pelos quais sairia do tribunal. O registro foi publicado no Facebook dele.
À reportagem da CBN, o magistrado disse que preferia não se manifestar sobre o julgamento.
O julgamento foi dissolvido nesse domingo após seis dias de trabalho. O juiz Cristiano Manfrim determinou o término dos trabalhos após a defesa de dois dos três réus terem abandonado o tribunal, alegando vício no júri. A defesa do terceiro réu queria que trabalho prosseguisse. Ministério Público Federal também queria, mas entendeu que o procedimento não seria correto sem os acusados da execução e da ordem do crime. Uma nova data deve ser agendada para outubro, e todo o processo de júri deve ser refeito.
O auditor José Antônio Sevilha foi morto a tiros em setembro de 2005.
Estavam sendo julgados o empresário Marcos Gottlieb, proprietário de uma empresa que vinha sendo investigada pelo auditor e apontado como mandante do crime; Fernando Ranea, que seria o executor; e Moacyr Macêdo, que teria aproximado os dois. Outros dois homens foram indiciados, porém um nunca foi localizado e outro morreu durante cumprimento de pena pelo crime de sequestro. Os réus são acusados pelo crime de homicídio qualificado, e a pena varia de 12 a 30 anos de reclusão. O empresário Marcos Gottlieb está preso preventivamente desde maio deste ano.
Sevilha investigava a empresa Gemini, uma importadora de brinquedos, que tinha dívidas milionárias com a Receita Federal. As defesas dizem que os réus são inocentes.
Ao todo, 11 testemunhas prestaram depoimento. O julgamento teve início na terça-feira (20) e havia a previsão de que se encerrasse nesta segunda-feira (26).