

Opinião
Adultos assumem a culpa, os infantis a transferem
O comentário de Gilson Aguiar por Gilson Aguiar em 03/09/2025 - 11:00
O imperativo categórico e a autonomia moral
Immanuel Kant, filósofo alemão do século XVIII, trouxe uma das formulações mais profundas sobre ética: o imperativo categórico. Para ele, a moralidade não se baseia apenas em desejos, interesses ou circunstâncias externas, mas na capacidade do indivíduo de agir segundo princípios universais, escolhendo aquilo que deve ser feito porque é certo.
Quando fazemos escolhas, manifestamos nossos valores. Podemos até alegar que fomos influenciados pelo meio ou pelas necessidades dos outros, mas, segundo Kant, essa justificativa é ilusória. No fundo, cada decisão nasce de um juízo próprio.
O perigo de valores frágeis
Se nossas escolhas são resultado de nossa autonomia, por que tantas vezes fazemos o errado? A resposta, para Kant, está na fragilidade dos valores que priorizamos. Muitas vezes, cedemos aos interesses imediatos e pessoais, ignorando princípios maiores como respeito, dignidade e honra.
Essa busca incessante por resultados a qualquer preço leva à destruição daquilo que realmente importa. É uma prática recorrente na sociedade atual e um dos grandes males humanos: abrir mão da responsabilidade ética em nome de conveniências momentâneas.
A responsabilidade não pode ser transferida
Um dos pontos centrais da filosofia kantiana é a responsabilidade pelas próprias escolhas. Não adianta culpar os outros, o meio em que vivemos ou as circunstâncias em que fomos educados. A escolha é sempre nossa.
Se sabemos o que é certo, por que insistimos em fazer o errado? Esse dilema aparece de forma clara na experiência educacional. Muitos alunos, por exemplo, culpam a escola ou os professores por não terem recebido uma boa formação. Alegam que estudaram em instituições precárias, públicas ou privadas, onde o ensino não foi de qualidade.
No entanto, mesmo nessas condições, poderiam ter buscado alternativas: ler mais, estudar com disciplina, aprimorar-se. Ainda assim, preferem transferir a responsabilidade para o ambiente, evitando encarar suas próprias decisões.
Do indivíduo à coletividade
Essa postura não se limita ao ambiente escolar. Nas empresas, nas famílias e em diferentes contextos sociais, a tendência de culpar o outro é recorrente. Muitos não percebem que, ao agir assim, estão apenas fugindo da verdade essencial: somos autores de nossos atos.
A ética kantiana nos lembra que a maturidade moral exige reconhecer essa autoria, assumir responsabilidades e agir de acordo com valores que transcendem interesses imediatos. Só assim podemos construir relações mais justas, humanas e duradouras.
Notícias da mesma editoria



Ética na Gestão Pública: Entre a lei e a cultura do patrimonialismo
Ética na Gestão Pública: Entre a lei e a cultura do patrimonialismo

Opinião
Respeitamos sua privacidade
Ao navegar neste site, você aceita os cookies que usamos para melhorar sua experiência. Conheça nossa Política de Privacidade