21 de abril, dia de lembrar de Tiradentes
A semana na História

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21 de abril, dia de lembrar de Tiradentes

A semana na História por Reginaldo Dias em 21/04/2025 - 11:50

O alferes Joaquim José da Silva Xavier, entronizado na memória nacional pela alcunha de Tiradentes, foi executado pela coroa portuguesa em 21 de abril de 1791, por seu envolvimento em um movimento político que defendia a independência do Brasil, a assim chamada Inconfidência Mineira. Por isso, Tiradentes é lembrado como ‘mártir da Independência’. No entanto, ele se tornou herói nacional apenas no período republicano, um século depois.

A Proclamação da Independência ocorreu em 1822, 30 anos depois da morte de Tiradentes, mas seu nome não foi exaltado nas primeiras décadas do Brasil independente. A emancipação política do Brasil fora comandada pelo herdeiro da coroa portuguesa.  Em vez da república preconizada pelos inconfidentes, implantara-se uma monarquia, encabeçada, sucessivamente, pelo neto e pelo bisneto de D. Maria, a rainha contra a qual se insurgiram os inconfidentes e que determinou a pena máxima ao alferes. Como afirmou um estudioso, era difícil exaltar os inconfidentes, em particular Tiradentes, sem, de alguma forma, condenar seus algozes e o sistema político de então

Normalmente, a história costuma destinar a lata de lixo aos derrotados, mas Tiradentes, não obstante a natureza do regime político implantado com a Independência, sobreviveu e teve sua memória resgatada na proporção direta do crescimento do movimento republicano.

O nome de Tiradentes emergiu, muito cedo, como o herói republicano. Na verdade, desde a fase final do Império, havia um processo de avivamento de sua memória, comandado pelos clubes republicanos do Rio de Janeiro, de Minas Gerais e de outras províncias.  Data de 1881, no Rio de Janeiro, a primeira celebração do 21 de abril. 

Quando se converteu em herói da República, havia um terreno sedimentado. Não se podia esperar que ele fosse um herói da galeria do Império. Não obstante os debates que existem sobre sua real posição no movimento de Inconfidência, não há dúvidas de que sua condição de mártir e de herói tem grande apelo popular e está viva na memória nacional.

Como explicam alguns estudos especializados, na elaboração de sua imagem como herói nacional, houve a ressignificação de sua biografia para erigi-lo como uma espécie de Cristo cívico, alguém que deu a vida pela salvação do país. Antes mesmo da proclamação da República, poetas o citavam como o ‘Cristo da multidão’. Não há nenhum retrato fidedigno do alferes. Como regra, as imagens que conhecemos, elaboradas para a pedagogia cívica, representam-no de forma assemelhada à imagem que representa Jesus Cristo no senso comum: cabelos longos, barba, túnica. Por isso, havia uma dimensão catequética. Alguns fatos do final de sua vida ajustavam-se a essa catequese. Joaquim Silvério dos Reis, o delator do movimento dos inconfidentes, tornou-se uma espécie de Judas Iscariotes.  

A densidade de Tiradentes como herói nacional revela-se pelo fato de ser reivindicado por correntes políticas contrastantes. Em 1965, no curso do governo do Marechal Castelo Branco, o primo do ciclo dos militares, foi declarado ‘patrono cívico da Nação brasileira. Em contrapartida, movimentos de esquerda que combatiam os militares também reivindicavam seu exemplo para justificar uma revolução que promovesse a definitiva independência do país.

A galeria dos grandes personagens nacionais está repleta de reis, príncipes, aristocratas, presidentes, ministros etc. A despeito de tudo isso, o maior herói nacional vinha de baixo, era um homem do povo. Contra a tendência de julgar o brasileiro como um povo conformista e sem tradição de luta, Tiradentes era um rebelde que, com o preço de sua própria vida, não transigiu.  

Ouça "A Semana na História" toda segunda-feira, com o professor e historiador Reginaldo Dias, às 11h50, com reprises às 14h50


 

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