Opinião
Quem ama a força elege sempre o autoritário
O comentário de Gilson Aguiar por Gilson Aguiar em 16/12/2024 - 08:20
Não se combate violência com violência.
A violência sempre foi medida considerada necessária para acabar com o mal. Em determinadas sociedades o culto a violência se percebe nos rituais diários de superação de conflitos. Sempre há que considerar eliminar o opositor. Se defende o extermínio como forma mais prática de resolver o problema. O que é uma denúncia clara de nossa limitação na compreensão dos problemas que vivemos.
O culto a violência é histórico e consolidado nas relações de poder. Aquele que detém o controle sobre uma sociedade, ou uma liderança sobre um determinado grupo social, considera que manter o poder é prática da força, do mando. Ser senhor é se impor, não ser elevado, ser eleito, ou reconhecido.
A grande maioria dos nossos senhores da história sempre foram, no Brasil, resultado de uma imposição. Golpe. A liderança no Brasil é marcada pela intransigência. Há uma cultura de que para ser reconhecido como líder deve-se sempre ter em mente que a conquista da autoridade é o autoritarismo.
O melhor líder não é o autoritário.
Não por acaso, aqueles que se consideram aptos ao comando e dar ordens, gritar mais alto, fazer valer a sua vontade. Claro, que mais que isso, os que se subordinam consideram que esta forma de expressão é a legítima de um líder.
Logo, xingamentos, ofensas, grosserias, opressão são atos que se considera típico daquele que tem o poder. Se acredita no autoritarismo como se fosse uma sinônimo de autoridade. A maneira como se devota a opressão na condição de senhor vem de nossa origem marcada por atos de dominação impostores. A força sempre foi melhor argumento que a razão ao longo de nossa história.
Essa naturalização do autoritarismo tem nos custado caro. É culto, educação, formalização, defesa que vem de berço. Já está entre nós há muito tempo. Nela está a raíz do culto a agressão dos programas sensacionalistas. É nesse sentimento de violência que se combate com violência que está o desejo de ver os policiais cada vez mais armados. É a mesma fonte que se bebe os excessos do aparato de segurança assim como de quem eles combatem.
O autoritarismo tem vida curta.
Saídas autoritárias nunca duraram muito. E se duram, deixam inúmeras vítimas até que sejam insuportáveis até mesmo para quem um dia as defendeu. Todo o ditador conquista com a força o poder e para mantê-lo terá que usar da mesma força ou mais para preservá-lo. Morrerá pela mesma arma que lhe deu vida.
Temos que lutar contra os excessos e os excessivos. Temos que começar partindo de nós mesmos. Precisamos romper com a nossa tendência a considerar que nos extremos repousa a melhor saída.
Aristóteles considera que nos extremos repousa os nossos vícios, nossas manias, nossos hábitos perniciosos que nos levam ao erro. Tudo aquilo que praticamos na crença pura de que temos a verdade nas mãos acaba por nos manchar. Sumamos o ato que consideramos certo com o excesso de extremos, o que nos leva ao erro.
Por isso, parodiando Aristóteles, a razão para o ser humano deve ser como os olhos para o corpo, esclarecedor de onde se está e iluminando o melhor caminho a se seguir.
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