Desprezo cotidiano pela vida nas periferias
Opinião
Nesta semana em que se comemora o Dia do Professor, é inevitável refletir sobre uma pergunta incômoda: quem quer ser professor no Brasil hoje?
Segundo uma pesquisa recente do Instituto Península, realizada em 2024, apenas 5% dos alunos do Ensino Médio manifestam o desejo de seguir a carreira docente. É um número que, embora ligeiramente melhor que em anos anteriores, ainda revela o profundo desinteresse dos jovens pela profissão.
Para efeito de comparação, em 2018, a Fundação Victor Civita apontava que apenas 3,3% dos estudantes desejavam ser professores. Já em 2021, o índice havia caído para 2%. Mesmo com pequenas oscilações positivas, o cenário segue alarmante — e as causas são conhecidas.
Entre os principais motivos que afastam os jovens da docência está o salário baixo. A remuneração, frequentemente insuficiente para garantir estabilidade financeira, não estimula o ingresso nem a permanência na sala de aula. Poucos conseguem construir uma trajetória que traga retorno material e prestígio social.
Mas, para além do aspecto econômico, há outro fator talvez ainda mais determinante: a desvalorização social do professor.
Em muitas famílias, a ideia de ser professor é recebida com desânimo — quando não com reprovação. Quantos jovens já não ouviram dos pais frases como “ser professor não leva ninguém a lugar nenhum”? Essa percepção, infelizmente, ainda persiste, associando o magistério a uma profissão de “pouca ambição” ou “baixo status”.
Há também o problema das condições de trabalho.
Muitos imaginam que a escola é um espaço de valorização do saber e de respeito ao professor, mas a realidade costuma ser bem diferente.
Ambientes tensos, conflitos constantes, falta de estrutura e pouca autonomia pedagógica fazem parte do cotidiano.
A discussão sobre a qualidade do ensino ou a importância da formação humana muitas vezes dá lugar a temas burocráticos: controle, aprovação e disciplina.
Com a escassez de recursos, a falta de incentivo à formação continuada e a ausência de políticas de valorização, até mesmo os docentes mais dedicados encontram dificuldade para se manter motivados.
Há uma ironia cruel nesse quadro: todos nós tivemos professores, e muitos deles deixaram marcas profundas em nossa formação. Ainda assim, o reconhecimento raramente acompanha essa lembrança.
No discurso, o professor é exaltado; na prática, é esquecido.
Enquanto a sociedade continuar a celebrar o Dia do Professor sem enfrentar os problemas estruturais da profissão — salário, condições de trabalho e respeito social —, continuaremos a fazer homenagens vazias.
Ser professor é mais do que transmitir conteúdo — é formar cidadãos, inspirar caminhos, estimular o pensamento crítico.
Mas, para que novas gerações desejem seguir essa vocação, o Brasil precisa reconhecer o valor real da educação.
Não basta agradecer aos professores um dia por ano.
É preciso que a sociedade inteira, das famílias ao Estado, reaprenda a respeitar quem ensina — porque sem professores, não há futuro.
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