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Picanha e gasolina não resumem um governo
O comentário de Gilson Aguiar por Gilson Aguiar em 16/06/2023 - 08:00
Quando se trata de governo, não julgue a parte pelo todo
O preço da carne está baixando. Isso pode alegrar muita gente.
Será que a promessa do atual presidente do churrasquinho mais barato vai se concretizar? Na capital, em Curitiba, se fala de uma queda de até 30% em comparação com o ano passado.
Tem mais, não pense que é só isso, o combustível tem baixa, a gasolina pode ter queda de 3,3% em alguns postos, claro que isso depende de vários fatores, entre eles a honestidade dos intermediários ou a busca de tirar proveito. Você sabe que preço dos produtos para subir é fácil e para baixar é difícil.
Agora o que se pode fazer é esperar alguns dias e medir a popularidade do governo depois destas medidas ou sensações de melhora. Pode ser que melhore.
O imediato não dá a medida de ninguém
Um governo pode ser medido pelo churrasco e o preço dos combustíveis? Eu acredito que não.
Um governo deve ser avaliado por muitos mais que atos imediatos. O que deve ser considerado é uma política de longo prazo em relação a miséria da população e a distribuição de renda, fatores mais importantes e que estão acima deste imediatismo de preço de picanha no açougue e gasolina na bomba.
Mas, pense, quantos não medem a vida pelo imediato? Nesta sociedade está prática de viver “da mão para boca” é comum.
Além disso, temos o péssimo hábito de “julgar o todo pela parte”. A satisfação imediata faz muitos aceitarem a permanência da dor por mais tempo.
Uma das habilidades dos homens públicos em sua carreira é manipular a sensação imediata. A grande maioria se elege por isso.
Na política, o que não tem um preço elevado é o malfeito. Muitos dos que estão hoje no poder já praticaram atos de agressão e violência contra a população. Já condenaram muitas vidas com práticas de corrupção e jogo de poder.
Por isso, não cola o ditado de que “o passado nos condena” na vida pública. O passado de parte considerável dos homens públicos tem atos ilícitos. E muitos, mesmo condenados, estão na vida pública.
Importante não esquecer e principalmente compreender
Lutar contra o imediatismo é uma tarefa de comprometimento. Temos que manter a consciência de quem somos e de onde viemos. Consciência é a construção de uma compreensão de nossa experiência de forma racional, lógica e com sentido. Enfim, saber quem somos e onde queremos chegar.
Quando nos deparamos com as medidas, os atos do governo, por exemplo, devemos compreender que ações devem fazer parte de uma lógica mais ampla. Não podem ser consideradas atos anestésicos da vida cotidiana.
As boas escolhas não se resumem em um ato. É preciso acompanhar a trajetória para sabermos com o que e com quem estamos lidando. E ao fazermos escolhas, temos que ter uma percepção apurada da realidade. Conhecer mais, estudar com mais atenção e ter coerência entre o que sabemos e fazemos.
Claro que ser consciente não é um exercício fácil. Requer dedicação, gastar tempo procurando dados, informações, compreender melhor os problemas, ter uma percepção mais detalhada do que são os verdadeiros fatores em questão.
Será que o que nos falta é tempo?
Ninguém tem muito tempo para ficar se dedicando a entender melhor, compreender com mais detalhes, estamos bombardeados por interesses diários que tomam nossa vida e nossa atenção.
Ficamos quase todo o dia sendo puxados por estímulos diferentes. Hora estamos ligados em uma coisa e depois em outra. Saímos de uma informação rasa, para uma superficial e a mais densa nos incomoda pelo esforço de entendê-la melhor.
Mas, lembre-se, se quiser agir com mais consciência pelo todo e não pela parte, o esforço deve ser feito. É melhor conhecer pouco muito do que conhecer muito pouco.
Por isso, o preço do churrasco e da gasolina podem baixar, mas não significa que a solução para os nossos principais problemas se resolvera e que estamos a caminho de um final feliz. A jornada para isso é longa e requere mais atenção. Principalmente nossa.
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