O povo brasileiro não é passivo
CBN Maringá

Opinião

O povo brasileiro não é passivo

O comentário de Gilson Aguiar por Gilson Aguiar em 12/04/2022 - 16:53

Ontem fui desafiado por alunos em uma discussão em sala de aula. Algo raro. Já faz tempo que a concordância assola nossas vidas e nos rodeamos de quem compactua com os mesmos interesses nossos. Um bom debate tem sido algo difícil nos dias de hoje.

Mas sobre o que nós falávamos? Sobre os movimentos sociais e a passividade dos brasileiros. Se acredita ainda que a população do país é pouco reativa as mazelas que sofre. Isso não é verdade. O povo se revolta. Mas não da forma que muitos idealizam, através da organização política e ideológica em torno do Estado.

Algumas revoltas no Brasil ganharam força e se tornaram uma expressão estética mais do que uma causa duradoura. Aprendemos a incorporar as lutas diárias nas manifestações de rebeldia visual. Porém, a profundidade de lutar é algo raro.

Não se resume uma luta pela igualdade somente na estética. Tem que ter algo mais que isso. Nas empresas, existem cada vez mais um número maior de pessoas LGBTQI+. Isto é bom, mostra avanços, porém há uma vida lá fora que não se resume a estética da convivência dentro da empresa que dá um ar de inclusão.

As pessoas não estão incluídas só porque podem andar por aí de forma diferente. A diferença tem que ser uma condição de convivência e não apenas de circulação ou de expressão visual. Tem que ter algo a mais.

Podemos dizer diante disso que o povo brasileiro é passivo? Não, nunca foi. Historicamente é briguento, raivoso e luta contra o que o oprime. Contudo, não reconhece o Estado como instância de combate para superar seus dilemas, prefere outros meios. A luta se dá em cada esquina e em cada bairro. Uma constante de abrir espaço onde se mora e na comunidade com quem se convive.

Não se acredita que o Estado será sua representação. Ele é um distribuidor de dádivas. Enquanto nos adente depositamos nele a esperança de não nos deixar faltar. Não há o desejo de comandá-lo e nem a ilusão de participar de suas decisões. Se contenta com migalhas, mas se defende o pouco que se tem. Uma enchente ou enchorrada, um incêndio ou desabamento são demonstrações de lamento do que se perdeu.

Os projetos de longo prazo não são preocupação deste povo. Ele vive um dia atrás do outro. Vai levando para algum lugar. Se o rebento ficar de pé e vingar, se contenta. Se vai além é uma vitória. Não espera muito para não sofrer com a desilusão que a vida traz.

Logo, este povo se aparta do poder público, das artimanhas da política, do jogo partidário, das regras eleitorais. Apenas vota e espera. Deposita na sorte do bilhete da urna algum retorno. Não se vê participante de projeto algum. A tradição das relações que o antecederam lhe poda a esperança. Prefere a vida como segue do que ela interrompida.

A quem favorece esta prática? Não é preciso responder. Os de sempre, os eleitos, os beneficiados pela democracia ausente de povo cidadão. Contudo, presente nas urnas. 

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