O poder é obra do ambiente que o sustenta
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Opinião

O poder é obra do ambiente que o sustenta

O comentário de Gilson Aguiar por Gilson Aguiar em 27/12/2024 - 08:20

Todo o poder tem sua lógica. 

Claro que estou falando do poder criado e mantido pelos seres humanos. O poder criado em uma sociedade tem nela sua finalidade. Logo, todo o poder criado pelos seres humanos têm seus interesses estabelecidos e sustentados pelos seres humanos que dele se beneficiam ou veem função em sua existência.

O que estou querendo afirmar é que o poder não se impõe, ele se constrói. É estabelecido ao longo do tempo, tijolo por tijolo, como se diz. Ele não é um alienígena, um ser estranho, mas o resultado do que consideramos necessário. 

Assim, o que chamamos de ter dom para o poder é um exagero. Se o poder é obra humana, é a capacidade e lógica constituída entre os seres humanos que o sustentam, quem o detém tem suas habilidades de se manter estabelecido pelos próprios subordinados.

Líderes políticos, gestores empresariais, aqueles que exercem influência na vida social, são obra das relações nas quais estão estabelecidos. Como uma planta, nascem em solo fértil. Logo, ninguém nasceu para governar ninguém e sim nasce da relação com os subordinados. Não há um “predestinado” a ser o senhor de todos os outros. Uma sociedade constrói o poder que lhe governa. 

O poder expressa nossos valores.

Quando o cientista social alemão, um dos clássicos da Sociologia, Max Weber, fala dos modelos de poder e argumenta sobre a lógica messiânica do poder, ele não argumenta o predestinado, mas a cultura que se cria em torno de certos seres humanos que são tidos como o modelo que se espera no governo. 

Pierre Bourdieu fala dos “campos de poder”, que nada mais são do que rituais estabelecidos por segmentos, categorias sociais, muitas delas profissionais, que constituem um círculo restrito. São o que alguns chamam de “panelinha”. No poder há muito disso, você tem que ser um dos escolhidos, estar com os que detém o poder, ser aceito pelo ritual. 

Sendo assim, o discurso barato do liberalismo de fachada, da sociedade aberta a todos, da representatividade, do direito de todos a terem acesso a benefícios e cargos, principalmente onde está o poder representativo, é balela, papo para boi dormir. 

Há que se cumprir os rituais. Há restrições que limitam o acesso de todos. Por isso, o poder está sempre ligado a certas culturas, cultos, grupos sociais que estão próximos a ele e mantém o controle. 

Quem deseja alcançá-lo deve se submeter aos rituais, ao mando, aos códigos de permanência. Romper o círculo do poder é lutar contra ele mesmo, muitas vezes. Como dizem, “ninguém quer largar o osso". 

Em determinado momento nos  indignamos com os líderes, os homens públicos, os que estão no poder. Porém, contribuímos para alimentar o modelo de líderes, de governantes, daqueles que criticamos, mas, em nosso hábitos, nos mantemos no poder.

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