Gilson Aguiar: 'Temos um imenso passivo social no país'

Comentário

Gilson Aguiar: 'Temos um imenso passivo social no país'

O comentário de Gilson Aguiar por Gilson Aguiar em 03/04/2018 - 08:35

O que fazer com o passivo social?

Temos um imenso passivo social no país. Ele cresce constantemente e exponencialmente. Difícil saber quantos vão fazer parte da miséria amanhã. Porém, há a certeza que não serão poucos. Estamos comprometendo o futuro. Em muito pelo amor ao imediato. Como ter garantias? Elas não existem. São construídas no presente, não vem com o tempo.

A Secretaria de Assistência Social e Cidadania irá se reunir, na próxima sexta-feira, com o Comitê Intersetorial da Política Municipal para a População em Situação de Rua Cláudio Lopes. Junto com o Ministério Público se quer enfrentar a questão dos moradores de rua, das pessoas me condição de marginalização e que vivem nos “porões” da cidade. Elas incomodam quando emergem. Tiram, como os índios pedindo dinheiro e vendendo artesanato nos sinaleiros, a harmonia do ambiente ideal, seguro, que buscamos em nossa vida condominial.

A grande questão é: “Devemos ajudá-los a superar a miséria ou retirá-los diante de nossos olhos?”. Para os mais humanos a primeira; Para os higienizadores urbanos a segunda. Porém, para cada resposta uma medida diferente. Se queremos ajudá-los a sair da condição marginal, é necessário uma política pública voltada para o futuro. Qualificação e acompanhamento para não retornarem a condição de rua. E vale lembrar que muitos já se habituaram a isso, retornam quando retirados. Já no caso dos índios, há uma questão cultural, profunda, na raiz de sua conduta. Sua relação com espaço, ambiente privado ou público é diferente.

Aí entram em cena os higienizadores, os que estão longe de entender a cultura, o passivo social e falta de perspectiva diante de uma sociedade que aprimora as relações produtivas. Esta falta de produtividade expurga em uma velocidade gritante. Parte considerável dos que estão nas ruas não tem qualificação mínima para superar a marginalidade. Diante desta complexidade, maior que o desejo de viver em paz, é melhor empurrar o miserável para longe ou para baixo do tapete. A intolerância aos que não se encaixam aos padrões da “cidade perfeita” leva a política do extermínio e exclusão.

O passivo social que administramos hoje tem história, vem das grandes mudanças nos ciclos econômicos e sociais brasileiros. Se expressa no êxodo rural em seus dois grandes momentos, o final da escravidão, no Século XIX, e a revolução agrícola, mecanização, com a saída de uma grande leva de trabalhadores rurais, já no Século XX. Não fizemos a lição de priorizar o futuro, pensamos no imediato. A desigualdade se perpetuou e a solução escorreu pelo ralo do tempo.

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