Comentário
Gilson Aguiar: ‘Prisão ou não, fere a Constituição’
O comentário de Gilson Aguiar por Gilson Aguiar em 04/04/2018 - 08:16No país, houve inúmeras manifestações contra o ex-presidente Lula, na defesa da prisão em segunda instância e em defesa da Lava-jato. O país clama por justiça. Mas o que é justo? Quando se pensa na corrupção dos homens públicos e os que deveriam ser presos a injustiça é maior.
O dinheiro desviado por corrupção tira dos cofres públicos recursos vitais para salvar da miséria e da marginalidade muitos. Destes, os que acabam se transformando em bandidos e são presos sem dinheiro para recorrer a todas as instâncias. Quantos miseráveis ladrões na cadeia e quanto ricos homens públicos que roubam e estão fora. A questão é quanto custa um bom advogado?
Logo, a injustiça que se assiste não será resolvida pela lei. Não é o que está escrito, mas as relações que se estabelecem para se considerar culpado. A análise do processo, o conhecimento das brechas legais, a habilidade em saber fazer tramitar processos. Quantos e quantos casos em que recorrer é a regra até o processo prescrever? O culpado não paga a pena. Não por acaso, os ministros do Supremo Tribunal Federal, quando se aposentam, viram consultores ou dirigem grandes escritórios de advocacia, caros. Eles sabem o caminho das pedras ou como desviar delas.
Mais que isso, e no chão legal, a Constituição Federal, promulgada em 1988. Pensada por juristas para ser humana e complacente. Criada após um longo período de ditadura militar, encerrada em 1985, deu todas as garantias a quem fosse réu. Pensava talvez nos perseguidos políticos do regime totalitário. Porém, acabado o tempo do comando das fardas, o que se instala é a classe política fundada na busca de fazer o patrimônio na vida pública. Cobrar caro pelos serviços de representação política. Leis humanas em mãos desumanas geram injustiças graves, piores do que no autoritarismo.
Agora, o julgamento do ex-presidente é o ponto de convergência do debate. Estamos entre obedecer a lei e permitir que o culpado tenha como recorrer em liberdade até prescrever, porque está na lei, ou dar aos magistrados, juízes de segunda instância, o poder de definir sua prisão, rompendo com a Constituição. Mas as relações injustas continuam as mesmas, a desigualdade histórica não foi salva pelo humanismo constitucional. Ela é fruto de uma desumanidade real, constante, que sempre esteve acima das leis.
Notícias da mesma editoria
Opinião
Opinião
Opinião
Respeitamos sua privacidade
Ao navegar neste site, você aceita os cookies que usamos para melhorar sua experiência. Conheça nossa Política de Privacidade