Gilson Aguiar: ‘Corrupção é um mal das relações e não das pessoas’

Comentário

Gilson Aguiar: ‘Corrupção é um mal das relações e não das pessoas’

O comentário de Gilson Aguiar por Gilson Aguiar em 27/03/2018 - 08:48

Santa ilusão

O Brasil sofre com ondas de corrupção, nada recentes, históricas. Com diz Sérgio Moro, mas também tantos pesquisadores e intelectuais antes dele, historiadores, sociólogos, antropólogos, alguns até estrangeiros, como Thomaz Skidmore. Há uma corrupção que move a máquina pública desde nossa formação. Por isso, não há nada de novo. Como é importante estudar o Brasil, conhecê-lo. Não há novidade, apenas uma continuidade descoberta.

Quantos fatos. Corrupção, prisão, propina, lavagem de dinheiro, enriquecimento ilícito, patrimonialismo, nepotismo, desvio de recursos públicos. Os nomes de muitos que estão em ativa na vida pública é citado, investigado e tramitam em julgado, alguns já condenados em primeira e segunda estância. O presidente da república está sendo investigado por favorecimento de empresas. Ele foi gravado.

Logo, a culpa não é de um só, mas de muitos. Eles não inventaram a roda da corrupção, apenas se beneficiaram dela que existia e existe antes deles. O enriquecimento rápido que a política permite ao ascender ao cargo público, seja eleito, indicado, às vezes, até, concursado, move a vontade muitos a se dedicarem a causa pública. Todos querem seu quinhão.

Juízes do Supremo Tribunal Federal também mostram sua fragilidade. Batem boca, tomam decisões contraditórias, libertam o condenado. Um manda prender e o outro soltar. Adiam julgamento, como o de prender ou não o ex-presidente Lula. Tudo culmina com Eliana Calmon, ex-ministra do STF, afirmando que há “bandidos de toga”. Há quem se esconda na Justiça para se esconder dos próprios crimes.

Logo, não são pessoas, mas a forma que o poder ganhou ao longo de nossa história. Esta relação perniciosa entre a sociedade construída e o poder legitimado ao longo de séculos. Fortalecido na história da república recente e pouco experiente com a democracia. Agora, estamos aprendendo e vendo o que antes não se mostrava. Estamos melhorando, a verdade tem brotado. Vamos comemorar a sinceridade, mas vamos amadurecer.

Não podemos cair na ilusão de culparmos apenas os personagens da corrupção, mas devemos combater a relação que os constrói. Precisamos resolver o problema em definitivo e não deixarmos o ambiente propício para novos atos ilícitos. Temos que conhecer os nossos males e onde nós contribuímos para que eles ocorram. Talvez, sair da ignorância e ter maturidade, agir de forma responsável e olhar mais atento pode ser a melhor resposta.

E voltando a lembrar, o problema que atravessamos é histórico, nos acompanha há muito tempo, não se resume em pessoas ruins, mas é, principalmente, o ambiente que as gera. Nossas relações constroem nossos problemas. Talvez, também, precisemos melhorar para poder nos relacionar com pessoas melhores, entre elas, homens públicos, bons políticos, bons líderes.

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