Já falei tantas vezes de nossa origem. Quantas afirmações sobre o encontro que nos fez nascer. Agressivo, escravista, explorador do ser humano sobre o ser humano. Se respeito. Mas que construiu uma nação. Herdeira de uma prática violenta de trabalho que sendo a última a abolir o trabalho compulsório ainda mantém um passivo social imenso.
A desigualdade é tão antiga quanto nossa formação. Quando a colonização portuguesa deu seus primeiros passos na América, iniciou a construção de uma nação. Vale lembrar, Portugal não foi única em seu projeto colonial. As demais nações construídas pela colonização europeia tem suas cicatrizes. Esta condição é um desafio que se arrasta no continente.
Como ela se expressa na atualidade? No Brasil, a escravidão e suas marcas tem uma história a ser construída. Resgatar nossa porção afro-indígena é refazer necessariamente nosso olhar sobre as instituições do branco colonizador. Nosso cristianismo é diferente, nossa língua portuguesa e seus aspectos particulares também são, nossa cultura e estética. A bandeira expressa pela cor os trópicos.
Quando o Carnaval ganhava as ruas do Rio de Janeiro, no final do Século XIX e nas primeiras décadas do Século XX, as elites se retiravam da então capital ou fechavam suas portas para não ter que compartilhar com a expressão da “africanidade”. Apesar de ser o samba uma associação entre a música lusitana e afro. Mas os sons do Brasil já incomodaram muito a elite sonhadora do branqueamento.
A questão principal deste país é a miséria crescida e alimentada ao longo da história. Não é só uma questão de cor da pele. Multicolorida, ela associou seu escurecimento a pobreza. Este é o nosso problema. A miséria, a má distribuição da riqueza é o nosso desafio. Qualificar o ser humano para lhe garantir autonomia de construir sua própria vida. Logo, devemos defender sempre um olhar social acima da cor da pele.
Desta forma, manter as cotas sociais é ainda uma forma mais justa do que as cotas raciais.