Falsa inclusão digital: quando estar conectado não significa ter acesso
CBN Maringá

Opinião

Falsa inclusão digital: quando estar conectado não significa ter acesso

O comentário de Gilson Aguiar por Gilson Aguiar em 23/10/2025 - 08:00

Desigualdade digital no Brasil

Os números sobre o mundo digital no Brasil revelam uma realidade preocupante. Embora o discurso da “inclusão digital” esteja presente em debates e políticas públicas, os dados mostram uma profunda desigualdade no acesso e na qualidade da conexão.

Mais da metade da população — cerca de 57% dos brasileiros — possui uma condição precária de acesso à internet. Apenas 22% dos usuários, ou aproximadamente 12 milhões de brasileiros, contam com uma internet de pleno serviço. Mas o que significa, afinal, ter uma “internet de pleno serviço”?

O que define uma boa conexão?

A qualidade do acesso digital depende de uma série de fatores técnicos e estruturais. Entre eles, estão:

  • A potência da conectividade, isto é, a velocidade e estabilidade da rede;

  • A quantidade de dispositivos conectados simultaneamente — como smartphones, computadores e tablets —, que pode afetar o desempenho da conexão;

  • O tempo e a intensidade de uso da internet variam conforme o perfil e a rotina de cada usuário.

Esses elementos determinam o quanto a experiência digital é, de fato, completa.

Acesso não é o mesmo que acessibilidade

A acessibilidade digital não se limita a estar “conectado”. Ela envolve também a variedade e a qualidade dos serviços disponíveis dentro da rede. Os aplicativos, plataformas e sites que um usuário pode acessar refletem não apenas seu poder aquisitivo, mas também a estrutura tecnológica e cultural que o cerca.

A realidade é que a internet não é igualmente acessível para todos. Mesmo entre os conectados, existe uma diferença gritante entre o que cada grupo social pode explorar, aprender e consumir online.

O conteúdo que empobrece

Outro aspecto muitas vezes ignorado é a qualidade do conteúdo acessado.
A maioria dos brasileiros com boa estrutura de conexão pertence às classes A e B — mas isso não garante um uso crítico ou qualificado da internet. Por outro lado, os conteúdos de fácil acesso, com maior visibilidade e eficiência técnica, tendem a ser os mais pobres em substância.

Enquanto isso, materiais realmente informativos, culturais ou educativos exigem esforço para serem encontrados. É preciso “fuçar” a rede, procurar com paciência, aprender a filtrar.

Inclusão digital: mais do que infraestrutura

Portanto, a inclusão digital não se resume à disponibilidade de equipamentos ou sinal de internet. Ela envolve também a formação crítica do usuário e o acesso a conteúdos de qualidade.
De nada adianta estar conectado se o que chega até nós é superficial, vazio ou desinformativo.

A verdadeira inclusão digital só acontece quando a tecnologia serve para ampliar o conhecimento, democratizar oportunidades e fortalecer o pensamento crítico.

Reflexão final:
Na era da hiperconectividade, vale perguntar — estamos realmente incluídos digitalmente, ou apenas navegando na superfície de um oceano de informações sem profundidade?

 

Respeitamos sua privacidade

Ao navegar neste site, você aceita os cookies que usamos para melhorar sua experiência. Conheça nossa Política de Privacidade