Custo da perfeição: pressão por resultados e a alucinação do inalcançável

O comentário de Gilson Aguiar por Gilson Aguiar em 08/10/2025 - 08:00

A busca incessante pelo "ser humano perfeito" é uma ilusão que pode ter um custo altíssimo para nossa saúde mental e bem-estar. No Brasil, os números recentes refletem de maneira dramática o impacto dessa pressão.

O Alarme dos Afastamentos por Saúde Mental

Dados recentes do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) acendem um sinal de alerta urgente sobre a saúde mental dos trabalhadores brasileiros.

Houve um recorde de afastamento de pessoas do trabalho por problemas mentais.
Foram registrados 472 mil pedidos de licença no INSS.
Esse número representa um aumento de 67% em relação ao ano de 2023.

Ao analisar o perfil desses afastamentos, percebemos que:

A maioria das pessoas que se afastam por problemas de saúde mental são mulheres (64%).
A média de idade dos afastados se concentra entre 40 e 45 anos.

A Pressão Inalcançável por Resultados

Um dos principais fatores que impulsionam essa crise de saúde mental é a chamada pressão por resultados, intrinsecamente ligada à busca pelo ser humano perfeito.

É fundamental estabelecer metas importantes e ter objetivos na vida, pois "viver sem sentido não vale a pena". No entanto, o problema surge quando a busca por algo inalcançável é inserida no ambiente de trabalho e nas relações cotidianas.

Muitas vezes, quem estabelece metas de perfeição dentro das empresas são pessoas que elas mesmas nunca as atingiriam.
A crença de que a perfeição é possível, quando cobrada de forma constante e obsessiva, rapidamente se transforma em um grave problema de saúde mental.

Essa dinâmica se estende para além do ambiente corporativo. Nas relações pessoais, também somos constantemente cobrados por um padrão de perfeição que, ironicamente, quase sempre o próprio cobrador nunca alcançará.

O Reconhecimento da Condição Humana

É crucial que as empresas e a sociedade em geral reconheçam nossa condição humana. Somos seres humanos e, como tais, não podemos permitir que a busca por resultados nos desloque da nossa humanidade para um padrão desumano.

Quando somos pressionados a atingir um ideal que nunca poderemos alcançar, o resultado inevitável é a frustração constante.

A comparação com o "perfeito" ou o "ideal" é, em essência, comparar uma pessoa com uma ficção. O ideal é uma idealização inalcançável, que na filosofia é chamada de transcendência. Embora a transcendência possa nos guiar e inspirar, ela jamais deve ser cobrada como uma realidade tangível.

A grande tragédia é a falta de perspectiva que impede o reconhecimento do ser humano como genuinamente humano. O preço dessa desconsideração está sendo pago com uma epidemia de doenças mentais constantes, especialmente no ambiente de trabalho.

É hora de trocarmos a exigência exaustiva pela perfeição pelo fomento a um ambiente de trabalho e de vida que priorize a saúde, o equilíbrio e o reconhecimento da nossa valiosa e imperfeita condição humana.