Opinião
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A naturalização da miséria
O comentário de Gilson Aguiar por Gilson Aguiar em 20/12/2024 - 08:00
Eles estão lá, por mais que não se perceba.
Quem não viu e não sentiu. Nos semáforos, nas calçadas, o pedinte. Aquele que vive da doação, das esmolas, da caridade do outro. Ele, o pedinte, nem sempre é atendido, mais que isso, notado.
Às vezes doamos, às vezes não. Atrás de cada um destes seres humanos vivendo nas ruas, ou pedindo, há uma história. Quando nos damos o direito de ouvir, condição rara, algumas nos tocam, outras desconfiamos.
Porém, como condição humana, a miséria é história presente na trajetória da humanidade. Ela, a condição da miséria e da desigualdade, é tão extensa como intensa. Nunca foi um problema fácil de se resolver.
Poucos de nós se propõem a entender estas histórias e o tamanho do problema. Vamos dizer que o dilema é grande demais. Esta proporção nos coloca pequenos diante da imensidão que não será resolvida em um ato.
Mas, seria possível viver em um lugar sem pedintes? Sim, mas o preço do metro quadrado é no valor da distância que se quer da miséria perturbadora. Os lugares “saneados” da pobreza são caros. Por isso, o excesso sempre está longe de seu oposto extremo.
Como falamos, a miséria é condição que nos acompanha na história humana.
Vamos encontrar pedintes na Grécia e Roma Antigas, também no mundo medieval, na Época Moderna e Contemporânea. Os personagens povoam a Literatura, História e Arqueologia. São tema constante da Sociologia e Antropologia. Estão nos dados da Geografia Humana.
A miséria faz história e a desigualdade também. De tão longa, a vida nas ruas têm tradições, suas próprias regras.
Talvez, este seja o grande problema, quando o tempo de permanência de uma condição a coloca como uma natureza da vida social humana. Os discursos de que sempre existiu faz do existência uma natureza da vida, uma predestinação.
Facilita para muitos a convivência sem a exigência de resolver. Amenizar se transforma em compaixão. Uma profissão de fé que se adquire ao se exaltar a caridade como forma de salvar o caridoso, mas nunca acabar com o carente.
Assim, na paisagem urbana, o pedido transita. Presente, mas ausente. Como a paisagem, os objetos que fazem parte da via pública, a presença se sabe, mas não se leva em consideração. Por isso, não nos pesa, apenas nos comove, quando tropeçamos ou somos forçados a perceber a existência do miserável.
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