A eleição indireta a Presidente da República de 1974

História das Eleições - Episódio 16

A eleição indireta a Presidente da República de 1974

Podcast por Reginaldo Dias em 23/08/2022 - 07:23

Em janeiro de 1974, quando o Colégio Eleitoral se reuniu para sufragar o nome do próximo presidente da República, havia uma grande novidade. Pela primeira vez, o MDB, a legenda de oposição, havia feito a inscrição de uma chapa. Não se tratava, porém, de uma candidatura, mas de uma anticandidatura, segundo os termos utilizados pelos estrategistas do MDB.

Desde que fora criado, o MDB vivia uma espécie de dúvida hamletiana: ser ou não ser, eis a questão? Em outras palavras, havia a indagação se era um partido de oposição ou uma legenda cuja existência apenas servia para legitimar um sistema eleitoral, instituído por uma ditadura, em que não podia aspirar às posições de mando político efetivo, sujeitando-se, ainda, às temporadas de cassação de mandato, sempre que fizesse oposição de verdade.

Nas eleições parlamentares de 1970, houve uma maciça campanha pelo voto nulo. O país vivia sob a vigência do AI-5 e o congresso nacional ficara fechado de dezembro de 1968 a outubro de 1969. Na temporada de cassações que se seguiu, o alvo, claro, era a liderança do MDB. Em 1970, salientou o jornalista Elio Gaspari, a coação do regime militar e a campanha pelo voto nulo deixaram o MDB com sete senadores e 87 deputados.

Embora tudo indicasse que o MDB iria reproduzir a postura absenteísta de não participar do jogo político do Colégio Eleitoral, como fizera em ocasiões anteriores, houve redefinição da tática em setembro de 1973. Foi então que o deputado federal Ulisses Guimarães, presidente do MDB, anunciou-se como anticandidato. Não seria, portanto, uma candidatura, visto que não havia uma disputa justa e democrática. Nas frestas abertas pelo rito estabelecido, como descreveu Elio Gaspari, Ulisses Guimarães “aproveitaria a oportunidade da campanha para atacar o governo e denunciar o processo político abandonando-o dias antes da cerimônia eleitoral”.

Não foi uma tática adotada sem resistências internas no MDB, pois algumas lideranças consideravam que, ainda assim, era participar de um jogo político espúrio e antidemocrático. No entanto, prevaleceu a tática da anticandidatura. Com o lema “Navegar é preciso”, a chapa emedebista, que incorporava o jornalista Barbosa Lima Sobrinho como vice, percorreu o Brasil debatendo os problemas do país e denunciando o processo eleitoral.

Por sua vez, o candidato oficial foi o general Ernesto Geisel, então presidente da Petrobrás, que tinha como vice o general Adalberto Pereira dos Santos.

Na reta final, Ulisses Guimarães comunicou à chamada ala autêntica do MDB que a candidatura não seria retirada. Quando o Colégio Eleitoral se reuniu, Ernesto Geisel obteve 406 votos e Ulisses Guimarães obteve 76, havendo 23 abstenções, expressão dos emedebistas que remanesciam contrários à participação no Colégio Eleitoral.

A posse de Geisel em março de 1974 representou a volta do chamado grupo Castelista ao poder, o grupo que seguia originalmente a liderança do Marechal Castelo Branco. Geisel daria início a uma política de distensão, visando a uma volta organizada aos quartéis, uma normalização política que, na lógica do regime militar, deveria ser lenta, gradual e segura.

Polêmica nos quadros emedebistas quando ocorreu, a tática da anticandidatura logo foi vista como um turning point na história da resistência à ditadura, especialmente a partir dos expressivos resultados obtidos pelo MDB na eleição parlamentar de 1974.

Ernesto Geisel
Ernesto Geisel

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