O maringaense Raphael Koyama entrou para a seleta lista da renomada revista Forbes, que elenca os jovens mais promissores do Brasil com até 30 anos de idade, por conta da trajetória empreendedora com a rede MTG Foods, a maior rede de delivery e take away de comida japonesa e poke do sul do Brasil. Mas apenas cinco anos atrás, estar nesse grupo parecia algo completamente improvável.

A história da família de Raphael com a gastronomia começou nas feiras de Maringá, em 1969, onde o avô dele, Toshinobu Koyama, vendia pasteis. O nome oriental era difícil para o público, que apelidou o pasteleiro de Roberto. A massa saborosa e crocante do pastel do Roberto era diferenciada e fazia sucesso.

Segundo filho dos imigrantes Koichi e Yoshi Koyama, “Roberto” casou-se com Luísa Sugue Takahashi com quem teve seis filhos: Márcio, Cláudio, Jerry, Rogério, Thelma e Chrystiane. A pastelaria da feira virou franquia, que os filhos ajudaram a fazer crescer, dando continuidade ao legado do pai e o expandindo: o filho Jerry, que encabeçou o processo de franquear as receitas de pasteis que o pai começou, abriu um restaurante que se tornou referência em comida japonesa na cidade, o Matsuri. A primeira unidade, na Avenida Tiradentes, onde funcionava em conjunto uma unidade da pastelaria que leva o nome do pai, se expandiu para outras lojas com diferentes conceitos, mas tendo sempre como base a culinária oriental. O irmão, Cláudio, junto da esposa Emiko, passaram a auxiliar nas operações dos restaurantes, até que foram “recrutados” para uma missão - cuidar das operações do Pastel do Roberto em Londrina. Não havia como dizer não a uma necessidade da família.

O maringaense Cláudio e a marialvense Emiko se mudaram para Londrina em 2003, com os dois filhos, nascidos em Maringá, ainda pequenos. Raphael tinha apenas oito anos quando os pais, além de assumirem a franquia de pasteis criada pelo avô, decidiram abrir um Matsuri também na nova cidade. Eles haviam aprendido no restaurante de Jerry como preparar as receitas do cardápio e, como as vendas na pastelaria não iam bem, era preciso buscar uma alternativa para a família se manter. A aposta deu muito certo e, ao longo de quase 20 anos, o restaurante recebeu por várias vezes o reconhecimento de melhor estabelecimento londrinense de comida japonesa pela premiação Top Nikkey (que reconhece as marcas mais lembradas pela comunidade nipo-brasileira do Paraná).

O casal abriu mais dois restaurantes presenciais na cidade, todos com o mesmo nome, que quer dizer “festival” em japonês: o Matsuri Garden foi criado como buffet por quilo, o Matsuri Premium servia rodízio de comida japonesa e ainda havia um Matsuri no shopping. Com o produto reconhecido pela qualidade, os negócios pareciam ir de vento em popa, mas o sucesso entre os clientes escondia um problema causado por falhas de gestão - uma dívida, crescente, que chegava aos R$ 5 milhões quando o maior desafio que enfrentaram até então pegou a todos de surpresa: a pandemia da Covid-19.

Com os negócios da família progredindo, Raphael Koyama se permitiu trilhar outro rumo, bem longe da gastronomia. Se formou em engenharia civil e passou seis anos trabalhando em construtoras, até que o tino comercial que corria no sangue o estimulou a voltar-se um pouco mais para as raízes empresariais de seus pais, tios e avós: junto de um sócio, ele criou uma startup para comercializar a preços mais baixos alimentos que sobravam em restaurantes e teriam como destino as latas de lixo. A plataforma de delivery foi idealizada para evitar desperdício e ainda colaborar com um banco de alimentos. O EcoFood foi lançado em Londrina em 2019 e expandiu para Maringá. A startup começou a chamar atenção e se preparava para seguir para mercados maiores quando a pandemia começou. O novo cenário fez restaurantes fecharem, mas outros passaram a enxergar o potencial do delivery, por isso, com o foco certo, era possível aproveitar o momento de crise para crescer.

Mas dessa vez, quem seria convocado para ajudar a família era ele, Raphael. O tio, Jerry, bateu na porta do escritório do jovem empreendedor com uma missão. [ouça o áudio acima]

Assim como a geração anterior havia ajudado a expandir as vendas do pastel de feira do “Seu Roberto”, agora era preciso dar suporte para que tudo o que a família do rapaz construiu não fosse à ruína. Os três restaurantes bem sucedidos que os pais dele criaram estavam à beira da falência, mas desistir não era uma opção. A experiência de co-criação da startup Ecofood para reduzir o desperdício de alimentos, inspirada no dia a dia do Matsuri, foi o caminho para o filho do casal ganhar bagagem em gestão e ajudar a salvar a empresa. [ouça o áudio acima]

Raphael chegou para ajustar as finanças dos restaurantes dos pais com olhar de engenheiro e os ajudou a tomar uma difícil decisão: era preciso fechar as três lojas. Em um post emocionado e muito sincero, a família anunciou o fechamento das lojas físicas para seguir existindo em um novo formato: o Matsuri To Go, com operação exclusiva no delivery.

O apartamento onde ele vivia com os pais e os carros da família foram vendidos, buscaram empréstimos com amigos, tudo para honrar com a rescisão dos colaboradores dos restaurantes fechados na pandemia e amortizar a dívida. Os três se mudaram para uma “sobreloja improvisada” - em cima, eles moravam, embaixo, passavam o dia trabalhando artesanalmente preparando pratos orientais para entregar na casa dos antigos clientes. na primeira hora de Matsuri To Go, eles receberam 74 pedidos. Em um mês, a empresa bateu R$ 237 mil de faturamento, apenas com uma unidade de delivery aberta. Quatro anos depois, a rede passaria a atender milhares de clientes ao mês.

Maria Clara Rocha, então namorada de Raphael, decidiu também deixar a carreira na engenharia para ajudar nos negócios da família Koyama com uma nova linha: o Mok The Poke, que ela mesma tinha fundado no contraturno, em 2022, a partir do olhar estratégico da empreendedora que previu um mercado em ascensão. A nova operação rapidamente se tornou um sucesso, contribuindo para o crescimento da rede MTG Foods.

Hoje, ao lado das sócias, a esposa Maria Clara Rocha e a engenheira química Maria Fernanda Canizares, com quem ele já havia trabalhado na antiga startup, Raphael Koyama encabeça as operações Matsuri to Go, Mok the Poke e do restaurante presencial Matsuri, em Londrina, que foi reaberto em 2023, em um salão com capacidade para quase 200 pessoas, em frente ao Lago Igapó, cartão-postal da cidade. Os problemas financeiros estavam, oficialmente, ficando no passado. Os três empresários foram selecionados pelo Forbes Under 30 na categoria Varejo e E-Commerce a partir da trajetória do trio que comanda 50 unidades em 27 cidades pelo Brasil e gerencia mais de 60 mil pedidos mensais de delivery, o que garantiu à MTG Foods um faturamento de R$70 milhões em 2024. O Grupo opera em cinco estados: Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso, Santa Catarina e São Paulo. [ouça o áudio acima]

O reconhecimento de estar no seleto grupo da Forbes era um sonho que parecia distante, mas se concretizou bem a tempo. [ouça o áudio acima]

Os pais de Raphael continuam no negócio. A mãe, Emiko, cuida da criação de novos produtos e do treinamento de funcionários. Já o pai, Cláudio, é auditor de qualidade, cuidando da organização das cozinhas e do fornecimento. [ouça o áudio acima]

Para 2025, os planos são ambiciosos: a rede pretende aumentar o faturamento com a abertura de novas operações Matsuri To Go e Mok The Poke, além do lançamento de novas marcas: em janeiro eles deram início à operação da Emiko, um delivery de sushi premium, inspirado nas receitas da mãe, que dá nome à marca.

Para os empresários e famílias que estão vivendo hoje um momento difícil como o que a família Koyama viveu cinco anos atrás, Raphael dá um conselho: [ouça o áudio acima]

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