Ética de se fazer ou se ver fazendo
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Opinião

Ética de se fazer ou se ver fazendo

O comentário de Gilson Aguiar por Gilson Aguiar em 05/02/2025 - 08:55

Nem tudo é como a gente quer. 

Esta é uma condição que afeta a todos. O mundo não é perfeito. Mesmo assim, vivemos na busca de completar alguma coisa dentro de nós. Há que se concluir que o ser humano é um eterno insatisfeito. 

A angústia assim nos parece um mal. Vivemos sempre querendo que chegue logo o momento de algo acontecer. Este sentimento de que deve chegar o momento em que as coisas estejam completas e a vida satisfeita. Porém, esse dia não vai chegar. No final da jornada algo nos faltará.

Porém, isso nos move. Essa incompletude, esta ausência que por um lado nos corrói e por outro nos faz gerar uma satisfação de não parar, de buscar, de estar atento ao mundo, de agir e reagir. Viver é isso.

Existe contudo um porém, o que buscamos? Onde está a nossa busca de preencher o vazio em nós? O que consideramos necessários para que sejamos melhores e satisfeitos com a vida que temos? Estas questões definem a qualidade de nossa angústia, logo de nossa busca, logo de nossa existência.

Na sociedade atual, os seres humanos listam uma série de desejos. Fazem de suas vidas uma eterna coleção incompleta de objetos. Acreditam que a aquisição por si só dará a si a realização que as campanhas publicitárias pregam como ideal. A promessa de felicidade do produto é incorporada como o ideal de uma vida associada à aquisição. 

Neste ambiente de busca constante sem satisfação que dure, o ser humano cultua valores apenas simbólicos. Ele reduz a aparência do ato a toda a essência de sua vida. Uma vida tão pequena e frágil como os desejos superficiais que o alimentam. 

Estética ou ética?

Por isso, há muito mais estética do que ética. O desejo de ser visto fazendo é mais profundo do que o significado do que se faz por um valor do ato em si. O “fazer o bem” é um evento a ser divulgado e não um ato que tem em si a intenção e o que vai além dele. Aquilo que se faz independente de quem esteja vendo. 

O ser humano empobreceu em suas intenções. A angústia e o vazio a ser preenchido já não constrói mais uma maturidade qualitativa e sim uma aparência de valor que se desfaz diante de quem tem um olhar mais atento. A pobreza humana é escondida por trás de um brilho de vitória aparente. 

Por fim, há quem acredite fielmente que a realização humana está na quantidade de seres que acreditam no que você é. Para uma grande parte dos apaixonados pela divulgação de sim está a realização de ser o que se vê e se esconder do que realmente se é. 

Logo, o vazio continua a ser preenchido com uma grande diferença entre os seres humanos eternamente insatisfeitos. Há os que aos poucos fazem de si uma obra constante e coerente, construindo aos poucos um sentido com suas buscas. E, na grande maioria dos seres, há a busca eterna por um aspecto temporário de um ser que nunca tem sentido.

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