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A semana na História
No dia 12 de agosto de 1961, Maringá sediou o II Congresso dos Lavradores e Trabalhadores Rurais do Paraná, um evento que se estendeu até o dia 15 daquele mês. Na década anterior, o jovem município havia experimentado um processo de estruturação de instituições civis, representativas de diferentes forças sociais. No campo trabalhista, houve a formação de diversos sindicatos.
Em meados da década de 1950, o primeiro núcleo da nascente organização foi a União Geral dos Trabalhadores (UGT), entidade de base de representação heterogênea que aglutinava as diversas categorias de trabalhadores. A UGT foi a célula-mãe da formação de sindicatos por categoria, no campo e na cidade.
No bojo desse processo, formou-se, em 1956, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Maringá, o primeiro a ter essa denominação - que depois se tornaria padrão - no Paraná. A atividade do STR era intensa, em razão das demandas existentes na massa de trabalhadores rurais empregados no complexo cafeeiro. Da mesma maneira, multiplicou-se, em toda a região, o processo de organização dos trabalhadores do campo, visto que, até 1964, foram formados 86 sindicatos nesse setor.
O II Congresso dos Lavradores e Trabalhadores Rurais do Paraná contou com a presença de líderes nacionais das lutas no campo, como Francisco Julião, célebre fundador das Ligas Camponesas, de um representante oficial do presidente Jânio Quadros, além do deputado e sociólogo Josué de Castro, autor do livro A geografia da fome.
Como a liderança do sindicalismo rural do Norte do Paraná mantinha vínculos com o Partido Comunista, D. Jaime e os bispos da região articularam uma entidade para disputar a liderança da organização dos trabalhadores rurais, a Frente Agrária Paranaense (FAP). O lançamento da FAP foi programado para ocorrer simultaneamente ao II Congresso, em 15 de agosto. Preocupado com a simultaneidade dos eventos, um relatório da polícia política anotou: “não será de se admirar que ocorra algum conflito”.
Previsão certeira. De fato, houve um conflito de alta intensidade no centro de Maringá, uma espécie da batalha campal. O relatório não previu, porém, que a iniciativa fosse dos católicos. Estimulada pelo clero, houve uma passeata de estudantes católicos contra a realização do congresso sindical, fato que exigiu intervenção policial.
Um dos organizadores do congresso sindical, o vereador Bonifácio Martins, narrou os fatos desta maneira: “houve uma manifestação pública na Avenida Brasil, um desfile que tomava, cem, duzentos metros na rua e por trás dela a gente via a presença de pessoas ligadas aos setores da Igreja. O Congresso se realizava na própria Avenida Brasil, num galpão que tinha na esquina com a rua Silva Jardim. O confronto se deu ali naquela esquina. Eles chegaram na frente do prédio e começaram aquela gritaria: abaixo o Congresso, abaixo os comunistas. Atiraram pedras”.
Escreveu o padre Orivaldo Robles, autor de alentado livro sobre a história da diocese: “Numa época de nervos à flor da pele, não houve como evitar o choque entre representantes da Igreja – padres, congregados marianos, alunos dos colégios católicos – e militantes do Partidão. A polícia foi chamada”.
As forças policiais tiveram de proteger o congresso sindical, que o ocorria com autorização oficial e contava com representação do presidente da República. Na sequência, os líderes sindicais enviarem ofício ao presidente Jânio Quadros e ao Papa João XXIII, protestando contra a atitude hostil dos católicos.
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