Ouça "A Semana na História" toda segunda-feira, com o professor e historiador Reginaldo Dias, às 11h50, com reprises às 14h50
A semana na História
No dia 25 de outubro de 1975, o jornalista Vladimir Herzog, diretor da TV Cultura de São Paulo, foi assassinado, sob tortura, pela ditadura militar.
Na literatura sobre a ditadura militar, o período do governo do general Ernesto Geisel é citado como o início da distensão política, que preparava o país para uma abertura lenta, gradual e segura, com vistas à redemocratização. Em tese, a fase mais repressiva chegara ao fim e o país começava a caminhada para a normalização política. O início da assim chamada distensão política, porém, não significou o fim da repressão e o assassinato do jornalista Vladimir Herzog é emblemático dessa persistência.
Um dos primeiros testes da política de distensão ocorreu nas eleições parlamentares de 1974. Durante o regime militar, não havia eleições para os principais cargos executivos de âmbito municipal, estadual e federal, como prefeitos das capitais, governadores e presidente da república, mas eram permitidas eleições aos cargos parlamentares.
Em 1974, aproveitando as brechas da política de distensão, a legenda partidária autorizada a atuar como oposição, o MDB, obteve votação expressiva na eleição ao Senado, a única majoritária de repercussão nacional, e à Câmara Federal. Isso não atingia os principais núcleos de poder, mas sinalizava uma tendência. A resposta foi o recrudescimento da repressão, destinada a investigar suposta infiltração do Partido Comunista nas formas legais de atuação política.
Um dos alvos dessa operação foi o jornalista Vladimir Herzog. Intimado a prestar depoimento em 24 de outubro de 1975, ele compareceu no dia seguinte à unidade da Divisão de Operações e Informações do II Exército, conhecida como DOI-CODI, sediada em São Paulo. Negando a suposta relação, ele foi submetido a torturas. Não sobreviveu.
Na versão oficial, divulgada pelas agências governamentais, ele teria cometido suicídio por enforcamento. Era uma farsa que correspondia a um padrão de divulgação do assassinato de opositores políticos do regime militar: a versão oficial frequentemente indicava suicídio, fuga ou atropelamento. No caso de Vladimir Herzog, entre outros dados inverossímeis, foram divulgadas imagens que mostravam os pés do prisioneiro tocando o chão, com os joelhos dobrados - posição em que o enforcamento era impossível. Além disso, havia marcas evidentes de tortura em seu corpo.
Herzog era de ascendência judaica. Nos ritos funerários, pela tradição de sua cultura, os suicidas devem ser sepultados em ala separada do cemitério. Entretanto, o rabino Henry Sobel, líder da comunidade judaica, ao ver as marcas da tortura em seu corpo, não teve dúvida de que ele havia sido assassinado. Por isso, Herzog foi sepultado no centro do Cemitério Israelita do Butantã, uma decisão que desmascarava a versão oficial e denunciava sua morte sob tortura. Um ato religioso interconfessional ampliou a repercussão, regido pelo rabino Henry Sobel e pelo cardeal de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, mobilizando a sociedade civil e rompendo a censura imposta.
O assassinato de Vladimir Herzog foi um fato catalisador da luta contra a ditadura, pela redemocratização do país e em favor dos Direitos Humanos.
O aniversário de 50 anos desse trágico acontecimento é uma data que convoca o país a se lembrar desse tempo de autoritarismo, repressão e graves violações aos Direitos Humanos. É preciso lembrar para que nunca mais se repita.
Ouça "A Semana na História" toda segunda-feira, com o professor e historiador Reginaldo Dias, às 11h50, com reprises às 14h50
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