A cultura do café teve suma importância para o povoamento do norte pioneiro devido às várias fazendas de café que foram surgindo na região. Na época, o estado do Paraná oferecia condições favoráveis para a aquisição de terras aos imigrantes, a ponto de liderar a colheita nacional do produto nos anos 60. Mas a Geada Negra de 1975, que devastou as plantações de café de todo o Estado, levou milhares de agricultores a deixarem a cultura.
Com o passar dos anos, a relação do Estado com a cafeicultura mudou. O Paraná passou a ser reconhecido não pela quantidade da produção, mas pela qualidade do seu café, que figura entre os melhores do Brasil, o que o torna bastante apreciado pelos conhecedores.
Hoje o Estado é o sexto maior produtor nacional e a cafeicultura paranaense é composta por aproximadamente 8 mil produtores rurais, sendo que 85% deles exploram a atividade em regime de agricultura familiar. A produção de café especial, com todos os cuidados que ela requer, acabou se tornando uma forma destas famílias agregarem valor ao produto.
Mas você sabe o que são cafés especiais? Para o mercado, café especial não tem nada a ver com o espaço ocupado por memórias afetivas, como o café da casa da mãe ou da avó, mas sim com a qualidade do grão. O café tem uma pontuação, que é dada por “provadores profissionais” e vai de 0 a 100 . Quando a nota atinge até 70 pontos, o café está na lista dos convencionais; de 71 a 80, são cafés gourmets; de 81 a 83, são cafés especiais e de 84 a 100 são os chamados super especiais. No CaFé ON, evento que aconteceu este fim de semana (24 e 25) na Represa Sendeski, em Iguaraçu, reunindo produtores, cafeterias e apreciadores de um bom café, era possível ocupar por um dia a função e descobrir, às cegas, as nuances de cada grão. Mas para trabalhar na área, as exigências são maiores, como explica o engenheiro agrônomo Gabriel Felipe Marquiori Lázaro, do Café Semeado.
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Chico Artal é especialista em cafés especiais e degustador profissional. Maringaense, nascido em uma região que se desenvolveu em torno da cultura cafeeira, ele provou um café especial pela primeira vez na Grécia
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A sensação de inconformidade o impulsionou a empreender na área, estudando e educando o consumidor na escolha dos melhores cafés.
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Para ele, eventos como o CaFé ON conectam toda a cadeia, trazendo diferentes vivências. A descoberta do mundo do café especial, que ele fez lá na Grécia, estava sendo feita por centenas de pessoas ali.
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A professora da Universidade Estadual de Maringá, Sandra Schiavi, fez uma palestra no evento sobre o mercado de cafés especiais. Desde 2011 ela trabalha com a cafeicultura e a cadeia de cafés especiais no Estado fazendo pesquisa e extensão por meio da universidade. A pesquisadora explica que o Brasil é referência na produção do grão, mas tende a exportar o de melhor qualidade para países mais ricos e a população local acaba tendo mais acesso a produtos menos qualificados.
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O evento contou com capacitações técnicas, palestras, vendas de produtos e gerou conexões entre todos os elos da cadeia cafeeira da região, movimentando a economia e promovendo diferentes combinações para públicos diversos. Harmonizações gastronômicas, culturais e afetivas que ganharam espaço ao responderem o convite presente no dia a dia: “aceita um café?”.
Mais de uma dezena de cafeterias estiveram presentes no evento oferecendo degustações e vendendo produtos para acompanhar as bebidas: pães, doces, queijos, embutidos… As harmonizações podiam ser apreciadas ali, na hora. Mas também houve espaço para inovar e surpreender o paladar: que tal um penne ao molho de cappuccino com espuma de creme de leite e farofa de castanha do Pará? Essa foi a receita criada especialmente para o CaFé ON pelo chef Gerson Peron.
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Nascido em Petrópolis, na serra fluminense, Léo Oliva mergulhou no universo do café aqui no Paraná, em Curitiba, onde se formou em gastronomia e se tornou barista. Para além dos muitos sabores possíveis, ele sabe que café também combina com competição: o TNT, atividade que encerrou o CaFé ON neste domingo, 25, é um evento que reúne baristas disputando quem fez os melhores latte art, os desenhos em café com leite. O mais bonito ganha, mas ganhar ou não é o de menos.
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Para ele, o evento ajudou a levantar a bandeira do café especial para quem tem mais curiosidade em conhecer esse universo.
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Larissa Valone é uma das organizadoras do grupo “A mãe indica”, que nasceu em Maringá, hoje tem quase 600 mulheres, e está expandindo para outros municípios, e diz que o convite para tomar um café, muitas vezes, é tudo o que uma mãe precisa.
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Maria Cristina de Souza Moreira é ceramista e produziu as peças exclusivas do CaFé ON para serem vendidas durante o evento. Entre xícaras, pires e canecas de diferentes modelos, ela acredita que a beleza agrega ao sabor de qualidade.
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O CaFé ON teve o objetivo de evidenciar o café do Paraná, enaltecendo a cadeia cafeeira. Dani Cenerini, uma das organizadoras, diz que o evento cumpriu a missão de reunir a região em um resgate histórico da importância do grão e, passada a primeira edição do evento, promete:
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