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O mercado de cafés especiais está em crescimento, principalmente por conta do investimento que vem sendo feito por negócios locais para proporcionar experiências gastronômicas diferenciadas. Na última semana, uma força feminina regional se uniu para impulsionar ainda mais o setor.
A ideia surgiu em Cianorte, com Celene Viana, sócia da Semeado Cafés Especiais, uma empresa que nasceu com a proposta de fazer uma curadoria dos melhores grãos Brasil afora, comprá-los in natura e depois torrá-los e levá-los até o consumidor final. Nascida no Rio de Janeiro, Celene veio para o Paraná junto do marido, para ficar mais perto da família dele. Ela, que sempre trabalhou com vendas, atuou por muitos anos no setor de moda, muito forte na cidade conhecida como Capital do Vestuário. Celene nem tomava café, não conhecia nada sobre esse mercado. O sobrinho dela, agrônomo, foi quem deu início ao projeto junto de um sócio, veterinário, vendendo os pacotinhos de café que eram colhidos na região, no porta-malas do carro. Quando o sócio quis sair do negócio, Celene e o marido entraram e a empresa se tornou cem por cento familiar. Foi aí que começou o garimpo para encontrar os melhores grãos. A primeira compra foi feita com produtores de Minas Gerais, mas o produto foi perdido por conta de uma torra errada. [ouça o áudio acima]
Mas o mestre de torra que eles tinham conseguido em Cianorte queria lançar a própria marca e a parceria precisou ser desfeita. Era hora de abrir o próprio espaço. O marido foi estudar para poder torrar o café corretamente e eles conseguiram um espaço para montar a micro torrefação. [ouça o áudio acima]
Celene passou a participar do Núcleo de Cafés Especiais da Associação Comercial de Maringá e buscou capacitação na área para poder entender melhor o mercado. Foi em uma missão técnica em Curitiba que veio a ideia de criar uma linha totalmente feminina. Lá ela conheceu Georgia Franco de Lima, a primeira mulher brasileira a se tornar mestre de torra e que abriu a primeira cafeteria dedicada ao café especial no País. [ouça o áudio acima]
A primeira a fornecer o café para a linha é Sandra Furlan Arruda, de Ivaiporã. Diferente da história de outras produtoras, ela não cresceu no sítio, em meio aos cafezais. Sempre foi comerciante, com uma vida muito urbana, e comprou uma chácara junto com o marido para que pudessem descansar. Ali plantaram trezentos pés de café, mas sem a pretenção de investir muito nesse cultivo. O marido tinha confinamento de gado, mas o negócio desandou e eles precisaram se reinventar. Sandra foi para o cafezal, trabalhar na colheita de café. Com a ajuda do Instituto do Desenvolvimento Rural, o IDR, ela descobriu o potencial que tinha em mãos para agregar valor ao grão. O processo, trabalhoso, de colher o café maduro no pé, antes de cair no chão, mexeu com os sentimentos da nova agricultora. [ouça o áudio acima]
A descoberta do café de Sandra veio por meio de uma degustação às cegas. Cada café era apresentado apenas com um número de identificação. Quando Celene provou o café de Sandra, foi amor ao primeiro gole. Ela guardou o número, entrou em contato com o IDR e foi atrás da produtora que havia cultivado aquele grão. Tempos depois, a empresária de Cianorte foi convidada para ser jurada em um concurso em que Sandra participou. Foi provar a amostra e ela já sabia de quem era, de tão marcante que era o sabor. Com sensoriais de cereja, caramelo, carambola e tangerina, o cafezinho passado por Sandra Furlan rendeu a ela o segundo lugar no concurso - com gostinho de primeiro. [ouça o áudio acima]
Como a cafeicultora queria inscrever a produção também no concurso estadual, precisava reservar sessenta quilos para amostra. Ela só conseguiria vender 20 quilos da pequena produção para Celene. Mas era o suficiente para colocar a linha Feito por Ellas no mercado. Para ela, ter uma linha com cafés cultivados por mulheres paranaenses vai ajudar a trazer mais reconhecimento para quem já trabalha com cafeicultura há anos. [ouça o áudio acima]
Mas a linha feminina não envolve só o campo. A ilustração da embalagem da linha Feito por Ellas foi criada por Priscila Castro de Souza, mais conhecida como Primavera. Ela, sim, cresceu cercada pelo café em Paranavaí. A família era cafeicultora até a geada negra atingir o noroeste paranaense. Nos pés que sobraram e na área de secagem, ela brincava quando criança. E para ela, café é sinônimo de afeto. [ouça o áudio acima]
Primavera estudou na Universidade Estadual de Maringá e aos poucos se tornou a ilustradora oficial no TNT Pé Vermelho, uma competição de baristas locais que acontece mensalmente, além de fazer ilustrações para linhas de cafeterias da cidade. Mas esse projeto fortalecendo o feminino traz para ela um sabor diferente. [ouça o áudio acima]
E para fechar o ciclo, a cada dois meses uma nova produtora vai fornecer os grãos para o Feito por Ellas. O lançamento dos micro lotes é sempre em uma cafeteria que tem à frente uma mulher. O primeiro foi no Le Petit Café, a primeira cafeteria de cafés especiais de Maringá fora da área central da cidade. Patrícia Duarte, publicitária por formação e com anos de experiência na área, abriu o negócio no Jardim Imperial depois de fazer um curso de métodos de extração de café. Na aula, ela era a única mulher. [ouça o áudio acima]
A linha recém lançada agora busca novas cafeicultoras para fazer o projeto seguir. A empresária de Cianorte tomou para si a missão de garimpar por todo o Paraná os grãos mais saborosos produzidos por mãos femininas para levar às xícaras de toda a nossa região - e de onde mais houver um amante de café querendo prová-los. [ouça o áudio acima]
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