Consumado o impeachment, assumiu a presidência da República Itamar Franco, eleito vice-presidente em 1989. Itamar Franco compôs um governo de coalização nacional com as forças que coordenaram a campanha pelo impeachment, do qual não participou apenas o PT, que se manteve na oposição com os olhos voltados para 1994.
Se a crise política e institucional foi contornada pela coalização que cercava o novo presidente, os graves problemas econômicos persistiram. Para domar a alta inflação legada pelos governos militares, um desafio que não foi superado nem por Sarney nem por Collor, Itamar Franco nomeou o senador Fernando Henrique Cardoso, que já participava do governo como ministro das Relações Exteriores, para ser o ministro da Fazenda.
Assumindo o ministério da Fazenda em maio de 1993, FHC compôs uma equipe com economistas que haviam participado da elaboração do plano cruzado e aprendido as lições do insucesso desse e de outros planos. A tarefa estabelecida era a elaboração do plano de estabilização econômica que veio a ser conhecido como Plano Real, cuja execução deveria dispensar choques e congelamentos.
Em junho de 1993, o líder nas pesquisas de intenção de voto para a sucessão presidencial era Lula, o líder da oposição, que somava 26%. FHC aparecia nas sondagens com 12%. Em fevereiro de 1994, quando Lula ostentava 30% e FHC mantinha 11%, a gestação do plano econômico mudou de fase, pois foi estabelecida uma moeda transitória entre o Cruzeiro e o Real.
A conversão definitiva viria a ocorrer no final de junho, com a circulação da nova moeda, o Real. Neste mês, Lula havia crescido para 41%, enquanto FHC detinha 21%. Entretanto, à medida que o novo plano incidia sobre a inflação e conseguia derrubá-la, FHC crescia. Em julho, havia empate técnico: Lula, 32%; FHC 29%. Em agosto, FHC ultrapassou Lula e abriu dianteira. No dizer da professora Marly Motta, “a inflação baixa, girando a 1% ao mês, garantiu a vitória da chapa de FHC, ao derrotar Lula, já no primeiro turno, com mais do dobro de votos”. Com efeito, FHC obteve 54% dos votos válidos, enquanto Lula preservou 27%.
Com a polarização precoce, houve o encolhimento de outras candidaturas de partidos tradicionais. Com 7,38%, o terceiro colocado foi o médico Enéas Carneiro, do Prona, que havia se destacado na campanha de 1989, usando criativamente os seus 15 segundos de propaganda eleitoral na televisão. Em 1994, Enéas ultrapassou o ex-governador Orestes Quércia, o quarto colocado, e Leonel Brizola, o quinto colocado. Certamente, a disputa eleitoral envolveu outros fatores complexos.
Desde o início, a chapa composta por FHC deslocava-se do centro para a direita, aglutinando o voto antilulista. Primeiro, promoveu aliança com o PFL. Segundo, manteve a agenda liberal da desestatização da economia e da abertura internacional, dotada de forte ressonância nos meios empresariais.
Não há, porém, como subestimar a influência do Plano Real na definição do voto. Assim disse Fernando Henrique Cardoso: a sociedade brasileira, cansada da inflação e de seus efeitos nefastos, viu no Plano Real um caminho de esperança.