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Chefiar uma família deve ser escolha e não abandono
O comentário de Gilson Aguiar por Gilson Aguiar em 11/04/2024 - 18:30
Cotidiano de alguém anulado
Todas as manhãs é a mesma coisa. Acordar cedo, arrumar o café, levar as crianças para a escola e ir para o trabalho. A jornada segue durante o dia o que sempre é ao longo de um tempo. Uma espécie de solidão acompanhada.
Ninguém comigo. Apenas meus filhos são o sentido de fazer, de resto meu caminho é solitário.
Na noite que se prolonga como parte do dia, a jornada segue um pouco mais. A casa para arrumar e os filhos para acompanhar. Me sinto mais um prolongamento da vida dos outros do que alguém que vive a própria vida.
A jornada começa e termina solitária. A espera de que no dia seguinte haja novidade. Algo que tire a vida desta contínua sequência de acontecimentos previsíveis.
Triste saber que tudo se dará como os números demonstram na tendência da qual a mulher está mergulhada. O relato acima é cotidiano comum para pessoas que reproduzem no dia a dia a condição de ser mulher.
Ironicamente, quando trato do tema em aulas, palestras e apresentações sobre a violência na comunicação e o ambiente desfavorável em que mulher se encontra. Há entre elas muita resistência e tendência de reproduzir com naturalidade a desigualdade injusta. Legitimar a própria dor.
A condição de chefia não é prestígio, mas abandono.
Se levarmos em consideração que as mulheres representam 48% da principal renda da família, elas são chefe da maioria das famílias brasileiras, esta condição não é marcada por uma escolha, é abandono. Acabaram sendo deixadas por um parceiro. Elas ficaram com os filhos.
Quando se fala em assédio moral ou sexual, a diferença é de uma para três em relação a homens e mulheres. A agressão nas relações de trabalho envolvendo tendo a figura feminina como vítima é de 70% a mais de casos.
O desemprego recai mais sobre elas do que sobre eles. Já quando se fala da renda, de salário, as mulheres ganham 20% menos.
A maioria das mulheres que estão à frente de suas famílias consideram que sua jornada não é “normal”. Sua condição é um problema de relacionamento, elas fracassaram com parceiras ou foram abandonadas.
Aqui, os números ajudam mais uma vez. Os homens refazem seus relacionamentos em menos de três anos, em média. Elas demoram pelo menos três vezes mais.
Essa condição não pode ser naturalizada. Há que se colocar a discussão no patamar que deve e merece ser debatido. Mães devem demonstrar para suas filhas e filhos que o protagonismo feminino não depende de ter um parceiro e reproduzir o lar perfeito, mas sim de ser feliz.
Melhor sozinha que mal acompanhada
Vale ressaltar que não é preciso um parceiro para se ter uma família. Elas podem planejar a vida sem obrigatoriamente uma figura masculina em sua vida. Vale aqui o ditado, “melhor sozinha que mal acompanhada”.
O que quero dizer é que a solução não está em ter uma família tradicional estável. Casamento é escolha e não obrigação. União estável é vontade e não obrigação. A autonomia do ser humano deve estar em primeiro lugar e a responsabilidade pelo ato também.
E esta educação começa em casa. A mudança se inicia na educação dos filhos. São os pais que devem ter em mente que o ambiente onde as pessoas se criam é o caminho determinante para traçar o futuro e fazer dele uma conquista da liberdade e da autonomia humana.
Se queremos superar a violência e a discriminação contra a mulher, é em casa, na relação com os filhos, que tudo começa.
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