O clima era de frustração, mas a oposição precisava decidir o que fazer. O PT, ainda um pequeno partido, defendia a retomada da campanha das diretas, recusando a hipótese de participar do colégio eleitoral, uma posição que manteve até o final. Dentro do PMDB, partido que governava importantes estados do país, como São Paulo, Minas Gerais e Paraná, havia uma tendência pragmática de articular uma estratégia que pudesse ser vitoriosa dentro do Colégio Eleitoral. O PDT de Leonel Brizola, governador do Rio de Janeiro, somou-se a essa estratégia. Para atingir esse objetivo, porém, era preciso formar maioria em um colégio eleitoral instituído para sufragar o candidato oficial. A única possibilidade de formar a maioria era dividir as forças governistas.
Desde a fase em que a campanha “diretas já” estava nas ruas, era perceptível que não havia unidade nas forças governistas a respeito de quem seria o seu candidato a presidente da República no Colégio Eleitoral. A ascendência do ex-governador Paulo Maluf nas articulações internas para assumir a candidatura dividia as fileiras. No início de 1984, em razão do avanço de Maluf, já havia sinalizações de parte de líderes do partido do governo para eventual entendimento com a oposição. Por outro lado, líderes oposicionistas, diante da dificuldade de a emenda Dante de Oliveira obter os votos necessários, já cultivavam essa hipótese como o próximo lance no tabuleiro da sucessão presidencial.
Se houvesse eleições diretas, o candidato natural do PMDB seria Ulisses Guimarães, mas a adoção da estratégia para a vitória dentro do colégio eleitoral levou ao primeiro plano Tancredo Neves. Tancredo Neves tinha perfil mais moderado e era hábil negociador para costurar a aliança que venceria o candidato oficial dentro do colégio eleitoral.
Alçado à condição de candidato a presidente da República, Tancredo Neves teve como companheiro de chapa José Sarney, que renunciou à presidência do PDS, o partido do governo, para ingressar na chapa oposicionista. Por outro lado, a aliança trouxe o vice-presidente Aureliano Chaves e cardeais do partido governista, como Antônio Carlos Magalhães e Jorge Bornhausen.
Em janeiro de 1985, quando o colégio eleitoral se reuniu para sufragar o nome do novo presidente, a aliança comandada por Tancredo Neves obteve 480 votos, enquanto Paulo Maluf recebeu 180 votos.
Entretanto, por uma fatalidade, Tancredo Neves foi internado na véspera da posse e veio a falecer em 21 de abril de 1985. O vice-presidente José Sarney tomou posse em 15 de março e substituiu Tancredo Neves em definitivo após seu falecimento.
O PMDB chegou ao poder federal em aliança com dissidentes do antigo regime, mas o presidente da República, com a doença e a morte de Tancredo Neves, era José Sarney, o ex-presidente do PDS, o partido que sustentava o governo militar nos últimos anos.
Seja como for, chegava ao fim a ditadura militar, deixando o país em grave crise econômica, social e política.