A reforma partidária

Nos livros de história, o período final da ditadura, iniciado em 1979, costuma ser denominado como período da Abertura Política. Conforme comentei em encontros anteriores, o objetivo do governo Geisel era promover uma volta organizada aos quarteis, realizando uma nova institucionalização do país a partir das diretrizes políticas do regime militar. Todavia, a rearticulação da sociedade civil transformou a distensão em uma agenda de abertura política e redemocratização.

Em 1979, já na agenda da redemocratização, foi promovida uma reforma política para pôr fim ao sistema bipartidário imposto pelo regime militar e reinstituir o sistema pluripartidário.

Para a oposição, era uma reivindicação democrática, pois o pluralismo político deve se expressar no sistema partidário, e não ficar engessado em duas legendas.
Para os mandatários do governo federal, era uma maneira de dividir a força crescente do MDB, comprovada nas últimas eleições para a representação federal.

Desde 1974, a legenda de oposição, o MDB, mostrava irresistível crescimento nas eleições para senador e para deputado federal. Desde a segunda metade da década de 1970, o país passou a viver uma grave crise econômica, caracterizada pela perda de dinamismo do PIB, pela aceleração da inflação e pela disparada da dívida externa, uma crise que se estenderia pela década seguinte, o que fragilizava o governo federal e o seu partido.

A partir de 1979, foram criadas as novas legendas, algumas com existência ainda hoje. Para suceder a Arena, o partido do governo, foi criado o PDS (Partido Democrático Social); para suceder o MDB, foi criado o PMDB, preservando o nome antigo, dotado de forte mística oposicionista. Ainda foi recriada a legenda do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), mas não sob controle dos antigos trabalhistas. Por isso, Leonel Brizola comandou a criação do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Outra legenda criada no período foi o PT, Partido dos Trabalhadores. Se você não sabe a origem dos números dos partidos, note que essas cinco legendas têm numeração de 11 a 15: 11 era o PDS e hoje é um dos seus sucedâneos, o Partido Progressista; 12 é o PDT; 13 é o PT; 14 é o PTB; 15 é o PMDB.

Ainda foi criada uma sexta legenda, chamada Partido Popular, liderada por Tancredo Neves em âmbito nacional e por José Richa no Paraná, mas houve um reagrupamento dentro do PMDB para não enfraquecer o principal partido de oposição.

No calendário da abertura política, havia a previsão de realização de eleições a governador em 1982, a primeira desde 1965. Para tentar dificultar o caminho da oposição, promoveu-se o adiamento das eleições municipais de 1980 para que elas coincidissem com a eleição ao governo estadual. Apostava-se na municipalização dos debates, desviando a atenção dos principais temas nacionais, muito salientes por causa da crise econômica que se agravava.

Essa manobra não deu certo, ou seja, não conteve o crescimento do PMDB. Esse é o tema do nosso próximo encontro, quando vou abordar as eleições de 1982.

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