A escola é melhor sem celular?
CBN Maringá

Opinião

A escola é melhor sem celular?

O comentário de Gilson Aguiar por Gilson Aguiar em 27/01/2025 - 08:00

Lembre-se: a educação vai além da escola.

A grande questão neste retorno às aulas é o uso do celular nas escolas. Como as instituições de ensino vão lidar com a proibição do aparelho pelos alunos e impedir que o uso deles prejudique o desempenho escolar. 

O celular, o smartphone é um inimigo da educação? Temos que impedir que crianças e adolescentes usem seus aparelhos para mantê-los atentos ao que podemos denominar de mundo real? Para responder a estas questões temos que aprofundar um pouco mais esta lógica.

Começamos considerando que educação não é coisa somente da escola, digo mais, ela está, em grande parte, fora dela. A vida além dos muros da escola é onde a educação ocorre de fato e com intensidade. A educação é um ambiente inserido na vida social.

Logo, o que quero iniciar considerando, a educação não muda as pessoas, são as relações entre as pessoas que geram mudanças. Os ambientes objetivos onde a vida se dá é que possibilitam transformações. 

A medida de proibir é importante, mas há uma vida antes e depois da escola.

Desta forma, vamos considerar que decretar a proibição do uso do celular nas escolas é em si uma medida interessante, positiva na defesa de uma educação de qualidade. Mas, é a relação objetiva que fará executar ou não esta medida que será a grande diferença. 

O que estou querendo dizer com isso? Proibir na lei não parece um problema, controlar as relações de forças e sentidos que se dá em sala de aula é uma desafio. 

Vou lhe dar um exemplo: escolas terão alunos que farão de tudo para usarem um celular. Na vida privada o uso do aparelho constituiu um anestésico para a vida real. Deixar de encarar problemas e projetar ilusões tem nas relações mediadas pelo mundo digital um campo fértil. 

A satisfação de viver sem se expor e de ser o que a imaginação quer é coisa que não se abre mão fácil. Os alunos, como viciados, alguns são por sinal, não vão suportar com facilidade a abstinência. A grande questão é, o quanto as escolas estão preparadas para resistir?

Nas públicas, a pressão pela disciplina pode causar uma indisciplina insuportável. Professores que se sentem saturados de terem que lidar com um ambiente desfavorável à aprendizagem terão que ter respaldo no ato de proibir o uso dos celulares, terão?

Nas escolas privadas, da mesma forma, a pressão vai se dar. Como os professores vão lidar com alunos que associam o pagamento da mensalidade ao direito de agirem de maneira que desejam. 

Pessoas fogem da vida real, pais também.

De uma maneira geral, pais ausentes, que tem nos celulares dos filhos um aliado para encobrir as lacunas de uma relação mal-resolvida estão dispostos a apoiar as escolas e estender a limitação do celular às práticas da vida familiar de maneira objetiva? 

Quem já não viu famílias reunidas em torno da mesa com cada um com um celular na mão?

Enfim, vale a pena apoiar a decisão de impedir o uso de celulares nas escolas, é um passo importante. Mas, não é com o decreto que a coisa muda, são nas relações objetivas onde se estimula o uso. Temos que encarar o uso do celular como uma dependência doentia.

Estamos criando seres humanos que desde a primeira infância se afastam da convivência objetiva de outros seres humanos. Hoje, a formação humana vai além da escola, está na construção da identidade diária das pessoas. 

 

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