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O Brasil não é um sapato
O comentário de Gilson Aguiar por Gilson Aguiar em 29/10/2019 - 09:38O por que somos assim? Temos um hiato entre a sociedade e o Estado. Uma lacuna. Nossa democracia esbarra em uma condição fundamental, a distância histórica entre a formação do Estado e a sociedade. Enquanto isso, distanciamos de nossa própria condição para projetarmos o que não somos. Temos que assumir aquilo que foi construído ao longo do tempo. Conhecer nossa própria história.
Navegamos ao sabor da retórica ilusória da popularidade. Escolhemos líderes que expressam de forma resumida e precária os anseios na ilusão de caricaturas. Não percebemos a importância que a liderança tem em sua função racional, necessária. Não paramos para pensar na necessidade concreta de um projeto de futuro. Realmente uma verdade se resume na frase, “cada povo tem o governo que merece”.
Incomoda a tosca capacidade de avaliação que se faz das ideias e ideologias políticas no Brasil. Da falta de implantação de um poder fundado em um projeto nacional. Hoje, como nas últimas décadas, somos obrigados a conviver com um discurso raso de governantes. O mesmo do boteco periférico carregado de forma legítima pela limitação dos que o povoam. A pobreza daquele que não conheceu a instrução, a racionalidade, a lógica mais complexa, há tempos se encontra legitimado no líder político.
Esta condição da ignorância elevada me lembra a história da Quebra da Bolsa de Nova Iorque. O bilionário do petróleo John Rockefeller costumava engraxar seus sapatos com um garoto antes de ir para o escritório. Em meio ao seu trabalho, o menino resolveu aconselhar o magnata norte-americano sobre ações da bolsa, dando dicas de que alguns papéis iriam subir. Rockefeller, assim que se despediu do engraxate “entendido em finanças”, vendeu todas as suas ações na bolsa de valores. O resumo da história é simples, quando um engraxate fala de algo que não conhece como se fosse entendido é porque o negócio está falido.
No Brasil, vivemos esta lógica do engraxate, nada contra a pessoa, toda a oposição a limitação de seu entendimento sobre algo complexo explicado de forma simples. A ignorância pode levar uma nação a falência. Infelizmente estamos caminhando nessa direção já há um bom tempo. E muitos dos nossos líderes são uma expressão disso. Um povo que não percebe a lógica rasa e se encanta por ser levado a sério ao reconhecer em seus líderes o mesmo raciocínio simples do engraxate que lustra os sapatos do magnata.
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